O que eu não gostava muito das mudanças tradicionais era o pessoal embalando e empacotando as minhas coisas, algumas coisas chegando quebradas e não saber por mais ou menos duas semanas onde estão as coisas todas.
Dessa vez coloquei um anúncio de que procurava caminhão de mudança. No mesmo dia, uns cinco entraram em contato, depois vieram mais alguns. Daí desistimos da casa no Jardim Botânico, suspendi tudo, mas eu já tinha entendido que uma mudança na mesma cidade custava uns mil reais. Algumas empresas de mudança continuaram mantendo contato, perguntando qual seria o novo destino, pedindo fotos ou vídeos das coisas que seriam transportadas.
Tomamos a decisão de vir morar aqui onde estamos instalados agora num dia em que Agnes e eu estávamos vendo apartamento num lugar e Luis começou a mandar fotos de outro apartamento que ele estava vendo como primeiro interessado (eu já sabia que muitas pessoas tinham visto o ap que eu estava vendo e era provável que outra pessoa interessada fosse mais rápida que eu pra fechar negócio). Mandou a localização e reparamos que estávamos muito perto dele. Fomos até lá (que agora é aqui) e Agnes definiu: essa casa tem banheira! É ligeiramente menor que o outro apartamento, mas é perto da escola da Agnes e não precisaremos pagar muito mais de aluguel.
Melhor que no Jardim Botânico, nesse apartamento podíamos pagar caução e não éramos obrigados a escolher entre fazer uma aplicação de 10x o valor do aluguel ou pagar seguro fiança, que é a fundo perdido (pra nós). Retomei os contatos com as empresas de mudança e todos se assustavam com a quantidade de livros e miudezas. Tinha gente querendo cobrar 4 mil. Fechei com um cara o seguinte: vai levar só os móveis grandes, que não cabem no carro e 10 caixas cheias por mil reais. A mudança seria na sexta, mas como ele só trouxe as caixas de papelão (20!) na véspera, pedimos pra fazer a mudança na segunda-feira. Tínhamos o fim de semana pra oferecer jantar aos amigos e montar 20 caixas de livros - não muito cheias, pra não ficar pesado.
Segunda de manhã o caminhão não chegava. Mandei mensagem, avisei que estávamos esperando, o homem pediu pra ser depois do almoço. Eu sei que segunda de manhã é difícil, mas eu estava faltando no trabalho pra acompanhar a mudança. Ele entendeu o argumento e mandou o primo com o caminhão. Tirei o carro da vaga de estacionamento, pra ele chegar mais perto, outra moradora ofereceu de tirar o carro de outra pessoa e um tempo depois chegou o marido dela pra tirar o carro. O espaço estava livre pro caminhão encostar todinho, mas continuava parado lá. Atravessei a rua, fui ver por que não vinha. O motorista disse, envergonhado, que a chave tinha caído no bueiro e que ele ia tentar fazer a ligação direta. Olhei pro bueiro. A roda do caminhão estava em cima da grade do bueiro. Luis sugeriu que todos empurrassem e o porteiro explicou que o caminhão trava, que isso nem dá. Trouxe uma lanterna, mas as luzinhas do celular de todo mundo eram mais fortes. Pensamos na chave reserva, subi pra buscar ímã de geladeira pra pescar a chave, mas quando voltei, a chave já tava na mão e todo mundo sorrindo.
Ajeitaram tudo no caminhão, viemos todos pra cá, descarregaram tudo, paguei e pronto. Tínhamos duas moradias especializadas: uma com móveis, outra com o resto. Durante essa semana toda, pendulei entre os dois endereços transportando coisas. Um dia, quando Agnes voltou da colônia de férias, Luis decidiu que ela podia tomar banho na banheira, mas ponderou que a água ficaria marrom. Ligou o chuveiro pra ela se lavar e ligou a água da banheira - pra ir enchendo. O disjuntor desarmou na cozinha e a água dos dois ficou fria. Foram no banheirinho que fica depois da área de serviço. Água fria. Voltamos na casa antiga pra tomar banho. Mal tínhamos mudado, já tivemos que acionar o seguro da casa.
Aí começaram as nossas férias e pudemos nos dedicar full time a transportar coisas de uma casa pra outra com pequenas pausas pra ajeitar as coisas na casa nova (tipo instalar varal de teto, receber o cara do seguro que veio porque eu fechei o registro do banheiro pra instalar uma ducha higiênica e não consegui mais abrir o registro de novo. Fui duas vezes na loja comprar o reparo e o registro, mas a peça é antiga e só vai chegar pelo Correio). O pintor - indicado pela imobiliária - me disse que só começaria a pintura quando não tivesse mais nada dentro da casa. Combinamos um dia, mas não consegui tirar tudo. Juntei tudo na sala e enquanto o pintor e os ajudantes se instalavam, levei as coisas restantes pra garagem.
Quatro dias depois, consegui tirar tudo da garagem (ontem foi dia de faxina na nova casa, então teve essa pausa). Falta só uma bicicleta, que ficou no bicicletário do prédio. A parte boa de fazer a mudança por nós mesmos é que pegamos cada livro na mão pra limpar e avaliar se segue conosco. Descobri que temos livros surpreendentes. Acho que pela primeira vez nossas bibliotecas se integraram - com ressalvas pra Marx, a Linguística e os quadrinhos que são que nem óleo em água. Outra parte boa foi o feng shui: dei móveis, louças e roupas pra pessoas escolhidas que ficaram contentes. Praticamente todas as unhas das minhas mãos estão lascadas, ganhei uns hematomas e uns músculos. Dessa vez, a maior parte da mudança foi paga em tempo e energia.