segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Flow e as compensações

Agnes e eu fomos no cinema depois da aula. Ela não sabia muita coisa sobre o filme que tinha como protagonista um gato. Não estranhou que o gato não falasse ou não se comportasse como humano ou cachorro (como se vê nos filmes infantis). 

Flow: 2024, 1h25 min, direção de Gints Zilbalodis 

Temos o costume de dublar filmes pra Agnes desde que decidimos levá-la ao cinema, onde ela demonstra certa resistência pra ver o filme até o fim. Através da fala, procuramos trazer ela para perto, manter a atenção dela, não deixá-la à mercê de sua interpretação... ou distração.

Fui conversando com Agnes o filme todo e notei que cada aglomeração de gente dentro da sala de cinema também interagia através da linguagem verbal. Ausentes no filme, os diálogos eram onipresentes na sala de cinema. Teve um momento que Agnes me disse que era pra eu parar de dublar o filme, mas logo em seguida ela assumiu essa função. 

Flow não tem nenhum humano ou voz humana (não tem palavras, sintagmas, orações ou frases), mas isso não quer dizer que não haja ali um texto organizado ou um discurso. O texto trata de uma jornada compartilhada por um gato, uma capivara, um cachorro, um lêmure e uma ave majestosa da espécie Secretário (comum na África do Sul) num cenário de dilúvio. O discurso me parece humano: não sei se capivaras intercederiam por um grupo de cães, se aves simpatizam com gatos a ponto de lhes oferecer comida, se lêmures têm mesmo essa conexão com as afinidades eletivas a ponto de largar o bando e os brinquedos pra salvar os companheiros, se gatos têm compaixão por animais aquáticos (baleia não é peixe, mas aquele animal era tão ancestral, que eu nem sei que animal é). A ausência de humanos faz com que interpretemos os animais como símbolos de humanos.

Grande parte das nossas conversas girava em torno de como conseguir comida num cenário coberto por água. Depois de morder dois peixes que perdeu em seguida, depois de cair na água mais de uma vez, depois de ver os cardumes de peixes passando, o gato entende que pode caçar peixes se mergulhar na água. Eu lembro dos banhos que eu dava em Mustafá e lembro do medo dele de morrer embaixo do chuveiro. O gato de Flow supera esse pavor da água e passa a coletar mais peixes que precisaria pra saciar a fome: traz peixes para os colegas. Os gatos que eu conheci na minha vida não fazem isso, por isso entendendo os animais como alegorias. 

Fiquei intrigada com a ave que, depois de ser expulsa do clã, acompanha o grupo no barco e sobe ao ponto mais alto do mundo para ter uma experiência mística que resulta no seu desaparecimento.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Embaixada dos Povos Indígenas

A Embaixada do Irã ligou na assessoria internacional do MPI perguntando que novidade era essa, de Embaixada dos Povos Indígenas sendo inaugurada. A Fran, que atendeu o telefone, não soube responder. Logo depois, a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que agrega as associações indígenas regionais Coiab, Apoinme, Conselho Terena, Arpinsul, Arpinsudeste, Aty Guasu e Comissão Guarani Yvyrupá) soltou uma nota informando que essa Embaixada não tem relação com as organizações de base indígena nem com o MPI.


Embaixada dos Povos Indígenas do Império Federativo dos Kariris. Um império federativo já me parece paradoxal. Os povos indígenas no Brasil não constituíram Estado - e o império é o Estado absoluto. Repare que não se trata do império dos povos indígenas, mas do império dos kariris (que estão no nordeste. A suposta embaixadora é xukuru, há 20 anos em Brasília).

No dia seguinte, a Embaixada da Coreia ligou e o Chico atendeu. Pela conversa, entendi que o Chico já sabia quem eram as figuras nefastas por trás dessa empreitada. Pelo bafafá que deu, suspeitamos que a extrema direita esteja por trás disso e que queiram brigar por um espaço na COP 30.