quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Mar.avilhoso

Andando pelas praias de Salvador, ficamos muito impressionados com a quantidade de lixo que as ondas trazem. Muitas vezes tentamos decifrar objetos incríveis que, olhando mais de perto, se revelavam plásticos ou vidros. Mas como tem muita pedra, alga e refúgios (recifes), tem muita vida se mexendo na água. É só sentar numa pedra e observar caranguejos movendo pedras, peixinhos que eu só identificava pela sombra que projetavam na areia, conchas andando por aí nas costas de ermitões, bolhas saindo de buracos na areia, cardumes de peixes que mudam de direção a cada instante, ouriços, pepinos, anêmonas de diversas cores, marias-mijonas, peixinhos lindos como pavões, siris com casco de mariposa.

Agnes encontrou búzios, que ela não conhecia, pegou caranguejo na mão (!) e trouxeram um peixe no balde pra casa.
Pra ela, o mar é maravilhoso.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Enfim férias

Cá estamos nós, em Salvador. Agnes e Luis passam metade do dia procurando peixinhos coloridos, caranguejos e conchas entre as pedras.
Na praia, Agnes vira outra pessoa.

domingo, 17 de dezembro de 2023

domingo, 10 de dezembro de 2023

Linguagem simples

O Projeto de Lei 6.256 de 2019 pretende instituir a "Linguagem Simples" na comunicação do Estado com o cidadão. O projeto de Lei é da autoria da Erika Kokay (PT) e Pedro Augusto Bezerra (PTB) - e portanto foi encarado pelo PL como sendo um "projeto de esquerda". Acho difícil traçar os limites entre ignorância, preguiça mental e rigidez cognitiva.

Linguagem Simples é a tradução encontrada em português para o que se chama de Plain Language. No Brasil existe uma rede Linguagem Simples (até sou membro) que pretende discutir estratégias de tornar acessíveis e claros textos elaborados pelo poder público. Os membros dessa rede percebem que muita informação não é absorvida pelo povo - e que linguagem é poder.

Acontece que, nas apreciações do projeto, entraram dois jabutis: a vinculação da Linguagem Simples ao VOLP e a proibição da linguagem neutra. A ABRALIN, por meio da Comissão de Políticas Públicas, procurou diálogo com os parlamentares para, na condição de linguistas, esclarecer as consequências de se legislar sobre a língua com base em crenças. A nota pode ser lida aqui

O VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) é um produto da Academia Brasileira de Letras. Como eles pensam a língua nacional como um patrimônio (imaterial), é preciso inventariar esse patrimônio e estabelecer - ano após ano - uma lista contendo todas as palavras da língua. A grafia do VOLP é a grafia que os dicionários usam como referência. Linguagem Simples não se resume a ortografia de palavras, mas trata de formas de apresentar um texto. Como é que o VOLP beneficia a lei de Linguagem Simples? Simples: no VOLP não constam palavras como todes, amigues, elu.

Chico Alencar (PSOL) levantou a lebre do VOLP: por que trocaram "observar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" por "obedecer"? Esse pode ser um elemento engessador - mas ninguém se esforçou pra esclarecer o que é o VOLP e o que ele faz ali no meio de um projeto de Linguagem Simples. A resposta que deram a ele foi que essa mudança foi resultado de muita negociação. Quem faz questão de proteger a língua portuguesa da linguagem não binária? A linguagem neutra é tida como aberração pelo PL - um deputado inclusive cometeu um ato falho e disse "linguagem negra".

Cabo Gilberto Silva (PL) fez questão do banimento da linguagem neutra usando como argumento o emburrecimento da população brasileira nos anos Lula e Dilma. Paulo Fernando (Republicanos) vomitou uma série de arcaísmos, pescou repetições de palavras no projeto de lei para sugerir sinônimos e por fim afirmou que o projeto de Linguagem Simples empobrece a língua portuguesa e representa a norma inculta. Ele afirma que leu o projeto atentamente, mas não entendeu o que é a Linguagem Simples. Domingos Sávio (PL) defendeu que a comunicação do poder público com a população deve ser feita em língua portuguesa e não em Linguagem Simples - como se a Linguagem Simples fosse um idioma à parte, uma versão deteriorada do vernáculo.

A sessão que aconteceu dia 05 de dezembro, foi gravada em vídeo e pode ser verificada aqui. A sessão tem quase 8 horas de duração. Quem quiser se inteirar dessa discussão em específico, recomendo que procure a marca das 6 horas, 14 minutos e 2 segundos.

Chico Alencar (PSOL) argumentou que a bancada conservadora não deve temer que o projeto de Lei instaure uma linguagem chula, reduzida e deturpada da língua portuguesa, já que o projeto obriga o uso das palavras no VOLP. De novo: o VOLP não passa de uma lista de palavras, não dá instrução de como essas palavras se combinam em orações, frases e textos. Citou Manuel Bandeira que, contrastando a fala do povo com a da elite, disse que "o que fazemos é macaquear a sintaxe lusíada" para mostrar que a linguagem sofisticada é linguagem de dominação. Gilson Marques (Novo) não entendeu nem mesmo a intenção argumentativa do Chico Alencar: "maquiar a sintaxe lusíada... que foi isso? Por que citar poesia altamente sofisticada e complicada para defender a Linguagem Simples?"

O relator, Pedro Campos (PSB), liberou a bancada pra votar o destaque proposto pelo PL referente à proibição novas formas de flexão de gênero e número, afirmando que esse destaque correspondia a um jabuti - que é "jabuti" no masculino e no feminino. A piadinha, bem como a citação de Manuel Bandeira, não teve a recepção esperada: "feminino de jabuti é jabota!" "É jabutia!!!". Houve mais votos favoráveis ao destaque que ao projeto (ou seja, mesmo quem votou a favor do projeto não entendeu a vinculação do VOLP à Linguagem Simples), o que garante em lei que, além da obrigatoriedade de usar o VOLP, fica proibido usar linguagem não binária - ou qualquer outro neologismo.

Fica de lição que Linguagem Simples precisa, necessariamente, ser uma postura comunicativa - não uma lista de técnicas para organizar a frase. É preciso calcular o que o receptor da mensagem sabe/entende. Antes mesmo de pensar na forma do texto (ou das palavras, já que não conseguiram ultrapassar a barreira do VOLP e da linguagem não binária), é preciso ter empatia com o receptor. Nesse sentido, o próprio nome Linguagem Simples é um obstáculo: linguagem cidadã seria um candidato melhor. Esse projeto foi votado em tempos de fascismo: um projeto que era pra ser inclusivo acaba excluindo a dinâmica própria da língua porque mirou no que chamam de linguagem neutra.

A nota de repúdio da ABRALIN termina assim:

A Abralin expressa a sua completa discordância em relação ao texto PL º 6.256/2019 aprovado no último dia 5 de dezembro e se coloca novamente à disposição do Congresso Nacional para discutir, na fase de tramitação no Senado Federal, uma proposta de comunicação pública verdadeiramente cidadã, clara, acessível e eficaz, que esteja de acordo com os princípios do conhecimento científico da linguagem e com a defesa enfática dos direitos humanos e dos direitos linguísticos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Bodas de zinco (ou estanho)

10 anos se passaram desde que nos casamos na igreja.


Muita coisa aconteceu nesses dez anos, mas a vontade de seguir juntos continua.



terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Piada

Agnes quis contar uma piada:

Um homem entrou numa mercadoria pra comprar um mercado/

Eu dei risada antes de ela terminar a piada porque entendi a analogia de mercadoria com padaria, sorveteria, papelaria, pizzaria etc., mas a graça estava em outro lugar.