A umidade relativa do ar está bem baixa aqui na Amazônia, perto de crítica (30%). E é bem nessa época de seca e calor que os ipês brilham.
sexta-feira, 29 de julho de 2022
Florar na seca
quinta-feira, 28 de julho de 2022
Vinte Mil Léguas
Aprendi muito ouvindo a primeira temporada do podcast Vinte Mil Léguas - lendo os cientistas como escritores. A primeira temporada, narrada por Leda Cartum e Sofia Nestrovski, trata de Darwin, o contexto de Darwin (o que ele lia, com quem se correspondia) e a ciência da época. É um podcast elaborado com muito cuidado e tato estético e realizado em parceria com a Revista Quatro Cinco Um.
A segunda temporada é em parceria com a Livraria Megafauna e o Instituto Serrapilheira e agora acompanhamos Alexander von Humboldt. Eu achei graça no começo, quando elas avisam que Humboldt é desconhecido: ora, eu estudei no Colégio Humboldt.
segunda-feira, 18 de julho de 2022
Controle
Numa coletânea, quem é que tem o controle sobre os textos? A figura do organizador. Quando os autores de um capítulo pedem a exclusão de um dos autores do capítulo que assinam juntos, o organizador deveria ficar atento e curioso, já que todos os autores assinaram um Termo de Anuência, se comprometendo com a publicação. Se um dos autores é excluído a pedido dos outros autores, qual é a história por trás?
Um texto escrito a seis mãos é da autoria dos três autores? Então por que alguém é primeiro autor e o que significa ser último autor? Quando um texto de aluno de fim de disciplina vira capítulo de livro, quem é o primeiro autor? O aluno ou o professor? Quem controla isso? E por que os professores decidem excluir o aluno da relação dos autores?
Numa editora, o livro a ser publicado passa por um processo de avaliação: o editor avalia a obra, dois pareceristas ad hoc leem e avaliam a obra, o Conselho Editorial avalia a viabilidade de publicação com base nos pareceres. O livro aprovado é revisado. No caso da EDUFRO, são até 3 provas de revisão e até 3 provas de diagramação. Já vi muitas mudanças textuais acontecendo nesse processo, até título de livro muda.
Especialmente em coletâneas, o que eu percebo é a desarticulação no processo de editoração: alguns autores não são mais localizados pelo organizador, outros não dão resposta quando a prova de revisão é enviada e o organizador não entende como sua tarefa a verificação do texto todo. Cada um lê o seu capítulo quando muito. Passam as provas de revisão e alguns autores resolvem ler o seu texto só na fase da diagramação.
O diagramador não é um profissional de Letras. O diagramador nem mesmo lê o texto, porque o que importa ao diagramador são os espaços na página. Pedir ajustes (envolvendo pontuação, por exemplo, ou itálico, negrito ou maiúsculas no nome do autor dentro dos parênteses - que são reguladas por norma interna da editora que não segue a ABNT) é, quase sempre, fugir do padrão estabelecido ao longo do livro todo. Normalmente os pedidos de ajustes em fase de diagramação de coletâneas chegam em arquivos avulsos - um pra cada capítulo. É bastante comum que esses arquivos contenham uma tabela com três colunas: página / onde se lê / leia-se. E é comum também que o autor copie o parágrafo todo pra pedir a alteração de uma vírgula (que não é sinalizada na coluna 'leia-se'). Como o diagramador é diagramador, eu assumo a tarefa de converter essas gralhas numa lista compreensível para o diagramador: informo página, parágrafo, linha, o que fazer, onde se lê> leia-se.
Os autores professores que excluíram o aluno autor do texto podem manter o texto sem o autor que trouxe o texto para o papel? Podem enviar outro texto completamente alheio ao processo de avaliação do livro em seu lugar? Podem enviar um texto que não foi revisado ou diagramado quando o processo de editoração do livro se encontra na prova 3 de diagramação?
Ser editor é lidar com textos e autores que são colegas. Lidar com os colegas é que é a parte complicada, porque eu sou a última instância de controle das alterações do texto. Quando fui coordenadora PIBID, contraí uma úlcera porque minha função era controlar os colegas.
quinta-feira, 14 de julho de 2022
Der Mond
Quando Agnes e eu saímos do sítio ontem, vimos a superlua do outro lado do Madeira. É claro que a foto feita pelo telefone ficou feiosa.
Dá até pra adivinhar Mare Tranquillitatis.
segunda-feira, 11 de julho de 2022
Trilha pra Cachoeira de Santo Antônio
No retorno, percebi que estávamos perdidos pelo volume de teias de aranha na cara, pela árvore enorme e o cogumelo que eu não tinha visto antes no meio da trilha. Não lembrar do caminho não é suficiente para saber que se está no caminho errado: é preciso ter certeza de que o cenário é novo.
Agnes acompanhou bem, mas não conseguiu controlar as reclamações. Sede... casa... cama...
Na maior parte do trajeto que fizemos, a trilha era relativamente fechada. Perto do fim, ela alargou.
Pensamos que uma trilha larga assim levaria à Cachoeira de Santo Antônio. Só que a usina está bem onde era a cachoeira.
Entrando à direita, encontramos o reservatório, cheio de árvores mortas. Dois pescadores cruzaram nosso caminho: "vão dar uma pescada?"
Seguindo pela trilha larga, chegamos nos fundos de um cemitério. Provavelmente a expansão do cemitério de Santo Antônio.
sexta-feira, 8 de julho de 2022
quinta-feira, 7 de julho de 2022
10 anos!
Foi no dia 07 de julho de 2012 que eu conheci o Luis. Era a festa junina da UNIR. Tínhamos passado por uma longa (e invisível) greve por melhores condições na universidade. Foi uma greve contra a gestão da universidade que culminou na renúncia do reitor. Fizemos campanha para a Berenice, que assumiu a Reitoria e em seguida eu prestei concurso na UFSM. Quando conheci o Luis, eu já tinha sido aprovada em Santa Maria.
Tomei posse na UFSM em novembro, depois de cumprido o estágio probatório na UNIR, o que me possibilitou pedir vacância (ao invés de exoneração).
A boate Kiss pegou fogo, o prazo de afastamento para cursar o doutorado do Luis foi se acabando, ele foi chamado de volta para UNIR e tivemos que decidir como seguiríamos juntos. Em 2013 nos casamos, a lua de mel foi em Lucena (PB) e pedi minha exoneração da UFSM.
Voltamos juntos pra Porto Velho em 2014 (minha vaga ainda estava lá na UNIR), quando a cheia do Madeira mudou toda a paisagem e vida aqui. Muita gente perdeu tudo, até as esperanças.
Conseguimos entrar na UHE Santo Antônio e fizemos um filme sobre essa cheia histórica. Em novembro de 2014 esse filme foi premiado no FestCine Amazônia como melhor produção rondoniense. Viramos rondonienses. Em 2015 Luis defendeu o doutorado dele na UFRJ.
Em 2016 veio a Agnes. Nasceu na maternidade pública de Porto Velho. Tive sintomas de zica durante a gestação, mas (aparentemente) a criança não foi afetada. Minha mãe e minha tia vieram visitar e conhecer o mais novo membro da família.
Com 1 ano e 4 meses, Agnes aprendeu a andar. A primeira palavra (AQUI) tinha sido enunciada com 1 ano e 2 meses.Em 2017 eu fui portariada para assumir a editora da UNIR enquanto Agnes estava internada no hospital com alguma virose feroz. Em 2018 teve a facada.
Em abril de 2019 Agnes convulsionou em decorrência de uma febre e acenderam os nossos alarmes. No meio do ano foram as queimadas na Amazônia, no final do ano o meu livro sobre sinais de pontuação foi lançado pela Editora Unicamp. A ideia de estudar sinais de pontuação tinha surgido em 2012, numa conversa com o Renato pelas ruas do Campeche, Floripa. Em dezembro mudamos para um apartamento (minha 6. moradia em PVH).
2020 começou com a morte da Oma, depois a pandemia nos isolou. Passamos a valorizar tudo que era fora do apartamento. Passei a usar óculos pra ler e tivemos que aprender a lidar com Zoom, Meet, Streamyard, Instagram etc.
Em 2021 chegaram as vacinas e começamos a sair mais. Na primeira viagem que fizemos, fomos roubados.
Esses dias eu tava conversando com o Luis sobre as bifurcações que se apresentam nas nossas vidas. Acho que a minha vida é feita mais de linhas retas do que de curvas, voltas e ruas sem saída. Não cabem muitos personagens em mim, não investi em caminhos aleatórios (mesmo em termos acadêmicos: de 2002 pra cá estudei preposições, agramatismo, tópico-comentário e sinais de pontuação). No entanto, é preciso reconhecer que uma importante bifurcação aconteceu no dia 7 de julho de 2012. Escolhi o Luis no meu caminho e seguimos juntos. Tua palavra é lâmpada para os meus pés, luz para o meu caminho.
segunda-feira, 4 de julho de 2022
O incêndio
O romance O ofício de Serguei Dovlátov publicado pela editora Kalinka em 2017 leva o seguinte subtítulo: "uma novela em duas partes". A primeira parte é situada na União Soviética e trata das inúmeras tentativas frustradas de publicar o primeiro romance (A zona). A segunda parte é ambientada no Estados Unidos, onde um grupo de escritores, poetas e críticos russos emigrados se junta pra fazer um jornal russo. A primeira parte leva o título O livro invisível e a segunda parte leva o título O jornal invisível.
O livro que Dovlátov, o narrador em primeira pessoa, passa a primeira parte do livro tentando publicar na União Soviética é traduzido por uma americana e sai como The zone em inglês. A primeira publicação é a tradução...
Ao final da segunda parte do romance (O ofício), o jornal russo em New York é consumido por um incêndio. Os amigos tentam entender o que tinha acontecido e acabam por concluir que o mais mulherengo de todos havia deixado uma toalha sobre o braseiro quando tinha levado uma moça ao jornal na noite anterior. O que fazer diante dessa situação? Adiantava acusar o amigo? Decidiram sair pra beber, oras.
Logo em seguida o narrador revela que o incêndio não aconteceu de fato: o jornal foi decaindo, as pessoas foram perdendo o élan, a coisa foi degringolando. Narrar essa decadência não pareceu atraente, por isso o incêndio.
* * *
A casa em Gramado era enorme. Já hospedou a família toda e guardava muitas memórias. Meus avós moravam na parte de baixo, meu tio mais velho e família ocupavam a outra metade do piso térreo e o andar de cima. Quando os filhos começaram a sair de casa, todo o andar de cima era de hóspedes, mas cada quarto ainda mantinha o nome do seu primeiro dono: eu dormia no quarto do Micha. Meu avô morreu, meu tio também, depois minha vó faleceu aos 100 anos. A moradia dos avós foi alugada, pra minha tia não ficar tão sozinha naquela casa enorme. Toda vez que eu ia visitar, olhava as esculturas do Harro, os jogos de infância, os livros do Gerhard e alguns que eu tinha escondido lá no meio.
Houve um incêndio. Algum problema na chaminé ou no cano que liga os dois andares. O fogo se espalhou pela sala perto da biblioteca, dos jogos, das madeiras do Harro. Todo o piso superior foi consumido pelo fogo, cada um de nós perdeu alguma muleta de memória que abre o portal para o passado. Em seguida choveu tanto e tão forte, que a seguradora encarregada de cobrir o estrago não conseguiu cobrir a casa e o piso do térreo foi comprometido. Minha tia e a empreiteira concordaram em reconstruir só o piso térreo da casa.
* * *
Fantasioso ou real, o incêndio marca um fim definitivo.