Depois de um dia inteiro em casa, decidi sair pra passear com Agnes. Pra animar a menina, Luis deu a ela uma tarefa: identificar 4 gatos. O propósito do passeio era ver as luzes de Natal no Palácio do Governo e comprar picolé.
Quando saímos, as luzes ainda estavam apagadas e a padaria estava cheia. Caminhamos até o mirante, para ver o rio Madeira (enchendo aos poucos). Lá encontramos com a Marcela Bonfim, conversamos um bocado e contamos o gato número 3, que era um dos vários gatos dela (ela não admite que tem gatos, prefere dizer que o cachorro dela é que adotou os gatos).
A noite foi caindo, decidimos voltar pra ver as luzes e tomar picolé. Nesse trajeto de volta para a avenida, a contagem ultrapassou os 4 gatos (tínhamos chegado em 7). Nas duas últimas quadras até em casa, que caminhamos pelas ruas de trás da avenida, fomos surpreendidas pela numerosa população felina. Nossa contagem chegou a 15.
Agora que o aplicativo ConecteSUS voltou a funcionar e exibir a minha carteira de vacinação digital, pude tomar a minha terceira dose (Pfizer, dessa vez) da vacina contra covid-19. Não mostrei nenhum documento em papel, tudo estava no celular: a carteira de motorista digital serviu como documento enquanto o meu RG é confeccionado (fica pronto em fevereiro!).
O sobrenome "Sheldrake" evocou memórias tanto em mim como no Luis. Não é o cara da "ressonância mórfica"? Com a pulga atrás da orelha, descobri que esse era Rupert, pai de Merlin (e Cosmo). Trama da vida é um livro de divulgação científica que nos apresenta uma perspectiva completamente nova sobre a vida no planeta: a partir dos fungos.
O livro conta com algumas ilustrações, mas mesmo assim tive que buscar no Google informações (bem) básicas para seguir apreciando a leitura:
Plantas (e animais) e fungos formam redes. Por muito tempo, a Biologia só contava com o conceito de parasitismo. O conceito de simbiose veio depois, mas não significa exatamente o que Sheldrake entende como associação entre dois seres de modo tal que um oferece ao outro o que este não consegue sozinho. Ying e yang é a imagem que vem à mente para mostrar uma associação/dependência em que os dois seres envolvidos se beneficiam da relação simbiótica. Quando se pensa em termos de redes,
[...] a noção de indivíduo se aprofundou e se expandiu até se tornar irreconhecível. Falar sobre indivíduos não fazia mais sentido. A biologia - o estudo dos organismos vivos - havia se transformado em ecologia - o estudo das relações entre os organismos vivos. (p. 26)
Acompanhamos o jovem Merlin num laboratório tropical no Panamá e nos maravilhamos com os outros pesquisadores ao redor dele: alguns acordam cedo para seguir macacos, outros passam as noites em claro para registrar a atividade dos morcegos; enquanto uns observam formigas nas copas das árvores, ele desenterra raízes no solo. Gostei do olhar atento de Sheldrake ao que acontece em volta, ao que é correlato. Para entender os fungos, passamos a conviver, ao longo de algumas páginas, com caçadores de trufas, flores que não fazem fotossíntese, pesquisadores militantes, pesquisadores de laboratório, cogumelos mágicos, cientistas da computação, empreendedores, farmacêuticos e tantos outros.
Merlin Sheldrake participou da Flip, cujo tema desse ano foi centrado nas plantas. Foi uma sessão um tanto conturbada (tradução pouco simultânea pra ele e inexistente pra nós, deslumbramento evidente da moderadora pelo outro convidado, perguntas bobas e silêncios longos). Nesse contexto da Flip, antropocêntrica por natureza (Literatura é humana), deslocando seu foco para as plantas, a "internet das árvores" parecia uma boa metáfora:
[...] cerca de 80% dos links na web apontam para 15% das páginas. O mesmo se aplica a muitos outros tipos de rede - como rotas globais de viagens aéreas e redes neuronais no cérebro. Em cada uma delas, hubs bem conectados possibilitam atravessar a rede em um pequeno número de etapas. É em parte graças a essas propriedades "sem escala" que doenças, notícias e moda se espalham rapidamente pelas populações. [...] Elimine o Google, a Amazon e o Facebook da noite para o dia ou feche os três aeroportos mais movimentados do mundo, e você causará grande confusão. Remova seletivamente árvores grandes e centrais - como fazem muitas madeireiras para extrair as madeiras mais valiosas -, e haverá sérios distúrbios. (p. 190)
Só que, no livro, a metáfora é considerada fitocêntrica. Como pensar os fungos a partir ... dos fungos? É preciso entender melhor os fungos!
Depois que Luis e Agnes libertaram os periquitos e depois que tínhamos decidido não ter mais animais em apartamento, Luis e Agnes apareceram com uma canária filhote. Claro que nenhum dos dois jamais limpou a gaiola, comedouro, bebedouro ou piscina dela. Mas Agnes deu um nome pra ela: Plena. Porque tem penas, porque se transforma em bolinha quando se sacode.
No começo, ela era muito assustada e não parava quieta. Depois foi acostumando. Daí começou a cantar. Achávamos que só o macho cantava... enfim. Antes da fatídica viagem a Peruíbe, onde nossos documentos e eletrônicos foram roubados, levamos a Plena pro Damián (pra ele ficar com ela ou passar adiante). No começo, ela gostou de todos os pássaros e sons da floresta, mas no fim tava sofrendo bullying (não lembro se era dos sanhaços ou das pipiras). Damián tinha amigos que criavam vários pássaros soltos (em casa) e tinha pensado em dar a Plena pra eles, mas não deu certo. Peguei a canarinha de volta.
Ficou quieta nos primeiros dias, me deu a entender que gosta de tomar banho todo dia em água limpa e agora está cantando de novo. Como não vamos mais viajar em dezembro ou janeiro, Plena volta a nos acordar de manhã.
Uma das minhas orientandas de PIBIC avisou que toda a família em volta dela está gripada e que uma pessoa testou positivo pra covid, outra testou negativo. Ela, no entanto, estava sem sintomas e perguntava se esse cenário de alguma forma afetaria o nosso primeiro encontro presencial.
Respondi perguntando se ela faria o teste. Os testes são estigmatizados, as pessoas na fila do teste devem sofrer com os olhares dos outros - além do peso da incerteza que carregam consigo. A resposta dela foi evasiva, mas horas depois veio a imagem do resultado: negativo.
A testagem deveria ser acessível, normal e fonte de informações para estudos sobre variantes, mutações e infecções. Essa moça foi fazer o teste por minha causa, pelo medo de colocar a minha família em risco. Espero que essa tenha sido uma das lições aprendidas durante a iniciação científica: testar é um método, não uma exceção.
Descobrimos hoje um ateliê de pintura em Porto Velho. Maria Miranda já tem esse ateliê faz 22 anos e tem alunos de 2 a 95 anos de idade. Muitos a seguem por anos (e ela acompanha a história de vida deles).
Agnes aprendeu novas formas de pintar: usando molde, bucha, usando o pincel de outras maneiras. Mas o que ela mais gostou mesmo foi de todo o brilho.
Depois de terminada a pintura, ela se enturmou com as meninas. O que eu achei bacana é que qualquer suporte vale pra arte: a mesa, o chão, o vaso sanitário... Não tem certo ou errado, apenas criatividade e muita atividade.