domingo, 21 de novembro de 2021

A linha e o ciclo

 

Luis comprou feijão verde e botou Agnes pra debulhar. Estabeleceu os critérios para incluir na panela ou descartar na vasilha: feijão com mancha vai pra vasilha, feijão sem mancha vai pra panela - mas sem a pelezinha. Tinha feijão verde, meio amarelo, até roxo. E apareceu feijão germinado.

Esse feijão que já tava nascendo, Agnes entendeu que não ia pra panela. Mas ela não entendeu em que estágio estava esse feijão. Luis tinha dito pra ela: "o feijão verde é o mais novo e quanto mais verde for o feijão, mais difícil vai ser tirar de dentro da vagem; e o feijão germinado é o mais velho, que está dentro da vagem há mais tempo". Quando fui me juntar a ela e pedir que me explicasse como funciona a seleção, ela disse que o feijão germinado era o mais novo.

Percebi que Agnes colocava o feijão germinado no ponto inicial de uma linha: ele vai crescer na terra, vai formar caule, folhas e vagens com feijões. Não consegui explicar pra ela (porque é teimosa) o ciclo do feijão, por que o feijão quer nascer dentro da vagem, ao invés de só secar e morrer.

sábado, 20 de novembro de 2021

GRATO 2021


Hoje foi o último dia da 7. Conferência Internacional em Gramática & Texto, vulgo GRATO 21. Quando recebi a carta de aceite, imediatamente pedi que me deixassem apresentar no último dia, porque eu estava envolvida na organização do ABRALIN em Cena 16 (que acabou ontem). Fui atendida, mas não consegui acompanhar o restante da programação da GRATO, infelizmente.

Tenho percebido uma certa dificuldade de encaixar o meu objeto de estudo (sinais de pontuação) em congressos acadêmicos. Tive até mesmo a sensação de ter tido uma ajuda por parte da editoria em processos de avaliação em que os pareceristas não viam muito sentido no trabalho que eu propunha. Nesse congresso, sobre gramática e texto, eu achei que me encaixaria mais facilmente.

O trabalho foi aprovado sem problemas, mas na sessão em que apresentei, eu era o peixe fora d'água. De novo (isso aconteceu no GEL) as perguntas e curiosidades se voltaram pra mim. Eu me sinto bastante acolhida, percebo que o tema é relevante e que os meus estudos podem ser de fato úteis para práticas didáticas.

Com esse evento, encerro o semestre. Semana que vem começam as aulas (que serão interrompidas em janeiro e retomadas em fevereiro). Vou tirar férias no domingo!

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A entrevista com as celebridades

Hoje foi dia de moderar apresentações de caso (relatos de experiências) no ABRALIN em Cena 16 de tarde. Comecei falando (lendo um textinho padrão que tínhamos preparado) antes da hora (por isso não vi o timer, só o aviso de que estávamos no ar) e quando entrei no ar, tava no final das boas-vindas. Comecei pelo fim!

De noite, estreou a entrevista que fiz com Kory Stamper e Arika Okrent. Foi a primeira vez que elas, as entrevistadas, tiveram acesso ao material também. Eu estava ansiosa pra ver o vídeo apresentado em público.

Passei semanas editando, traduzindo e legendando. Nunca tinha feito esse trabalho de tradução e percebi nitidamente como eu preenchia as legendas com referentes. Enquanto elas usavam pronomes vazios de significado (it, this, you), eu colocava os substantivos por extenso na legenda, pra não perder o assunto. Percebi também que enchi as legendas de sinais de pontuação. Tinha muito discurso direto na fala delas, e espero não ter me perdido nas aspas (dentro de aspas).

É visível como a minha fala em inglês é em estacato. A entrevista com a Arika foi a primeira, então eu acho que eu tava mais nervosa com ela que com a Kory, que ria muito e estava bem à vontade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Começou

 

Tudo (exceto as oficinas) está sendo transmitido ao vivo pelo canal do Youtube da Associação Brasileira de Linguística.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Live no Youtube da Editora Unicamp

E hoje teve live na Editora da Unicamp sobre o livro Onze sinais em jogo. Conversei com o popularizador da Linguística Vitor Hochsprung:

domingo, 7 de novembro de 2021

O tempo

 

Na Amazônia, chamam de verão o tempo da seca, da poeira, da fumaça. É o tempo em que não chove, os rios secam, as pessoas começam a desejar chuva. E chamamos de inverno o tempo em que chove (porque aí não é tão quente assim, especialmente se chove de tarde e não há mais sol pra evaporar a chuva). Pela foto, dá pra adivinhar que estamos no inverno.

A estrada da beira até o sítio está sendo alargada (derrubaram árvores dos dois lados e diminuíram o espaço entre o rio e a estrada). O serviço está sendo feito bem lentamente, largando montes de terra no meio da estrada, e só quando a chuva permite. E quando a chuva cai, desfaz o trabalho. Nem de bicicleta está dando pra passar, porque a lama não deixa a roda girar.

Então eu fui pela estrada por trás. Muita água no caminho. E poça de água em estrada esburacada é sempre uma incógnita, porque você não consegue adivinhar a profundidade do buraco. Meu coração parou na frente da igreja Filadélfia. Dali em diante a estrada foi ficando pior e eu avançava devagar. Quando cheguei na estrada da beira, não tive coragem de atravessar o atoleiro depois do Seu Calixto. E o carro na foto também deu meia-volta e não atravessou. Fui a pé, afundando e escorregando. Na volta afundei mais. Não sei se já tinha desencanado de tentar manter os sapatos limpos ou se era a sacola de manga massa que estava aumentando o meu peso.

É nessas horas que ribeirinho que é ribeirinho vai de canoa. Essa estrada não esteve sempre aí. Luis conheceu o Jairo antes da estrada da beira (e antes das usinas). Quando fizeram a estrada por trás, eu já conhecia o Jairo. 

Com a estrada, vem gente.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Elevador social

Tem gente que confunde direita e esquerda (tipo eu). Deve ser normal, porque é muita gente. Mas eu também confundo os elevadores. Social não é do povo? Aqui onde a gente mora, o elevador de serviço dá na cozinha - e a cozinha é o lugar mais social da casa. Toda vez que o porteiro informa indisponibilidade de um dos elevadores, eu retruco: o elevador da cozinha ou da sala?

Aí começaram os reajustes de aluguel, condomínio, nos alarmamos e começamos a ver outras casas e apartamentos. Entrei num apartamento que oferecia a seguinte sequência: cozinha, área de serviço, quartinho de empregada (ou despensa), banheirinho e porta pro elevador de serviço. Acho que se eu morasse ali, entenderia melhor a diferença entre elevador de serviço e elevador social.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Live no Youtube - Onze sinais em jogo

 

Ói nóis aqui traveis! Dessa vez, converso com o popularizador da Linguística Vitor Hochsprung.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Trilha antiga

Agnes e eu fomos no Parque Ecológico. Eu reparei que a entrada da trilha sobre palafitas tinha ganhado madeiras novas, então me animei: reformaram a trilha, vamos lá! Só que as tábuas e corrimão só tinham sido trocadas até a primeira curva. Depois disso tinha uma placa obstruindo a passagem e informando que estava em manutenção. E dessa vez a escada, que descia pra trilha antiga, estava aberta.

Descemos os degraus até a trilha na terra. Havia uma trilha paralela com bandeirinhas e outras sinalizações, que eu imagino seja usada para esportes (bike, trekking: estão anunciando um tal de enduro a pé). Agnes só pensava em voltar. A trilha era mais aberta que a do Jairo, muito bem identificável e tranquila. Quando passamos pela velha faveira ferro, entendi que estávamos na velha trilha do Parque. Minha mãe e Ulla caminharam por essa trilha, acho que Evelyn também. Renato, Pablo e Mioto caminharam por essa trilha (foi Pablares que me ensinou a bater nas árvores toktok pra ouvir a densidade da madeira). Todas as minhas visitas entre 2009 e 2012 caminharam por essa trilha. Ainda havia números nas árvores, mas as plaquetinhas com identificação tinham sido removidas. Depois veio o igarapé, depois o cipó na curva.

Agnes não entendia que estávamos mais perto do fim da trilha do que do começo. Cantava seus medos em voz alta: de escorpião, cobra, formiga. Aí chegamos nas palafitas podres. Agnes insistiu muito em seguir à direita, voltando. Isso significa que ela tem algum senso de direção. Tivemos que seguir um pedaço (à esquerda) pelas tábuas podres até chegar na parte em que as madeiras estavam todas desmontadas, no chão, aguardando ser removidas. Quando avistamos o viveiro, Agnes ainda teimava: essa é a casa de uma outra pessoa, vamos voltar. Só quando a trilha virou concreto é que Agnes entendeu que estávamos de volta no Parque. Abriu os braços e deu graças aos céus.