quinta-feira, 30 de abril de 2020

Fêmea tem, fêmeo: não.

Agnes e eu lendo uma história em que aparecia uma coquém. Pela imagem, deduzi que se tratava de uma galinha d'angola. Agnes passou algumas páginas elaborando em que condições a coquém podia ser uma galinha d'angola.
- A fêmea tem essas pintinhas brancas, o fêmeo, não.

terça-feira, 28 de abril de 2020

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Anticorpos e imunidade

Ainda vamos conviver com a covid-19 por muito tempo. Eurico Arruda, um dos poucos virologistas que estuda os corona vírus no Brasil (USP de Ribeirão) afirma que ter anticorpos ainda não significa estar imune, significa apenas que seu corpo conseguiu vencer o vírus - e que o vírus pode persistir no hospedeiro, infectando outras pessoas. A matéria foi publicada no Globo hoje, mas só assinantes têm acesso...

Ainda não acabou

Recebemos notícias de que a quarentena está afrouxando na Europa, que a China não tem mais internados por covid-19 e, apesar de estarmos um mês atrás deles, temos o desejo de sair do isolamento também. Mas aqui a curva ainda está em ascensão, todos os estados registram casos e mortes por corona vírus, os profissionais de saúde estão chegando ao limite de sua capacidade e não estão tendo retorno positivo: cada vez chega mais gente que piora.

Nossas formas de relacionamento social como as mantínhamos antes da pandemia acabaram. Ponto, mas nossa vida não acabou e precisamos aprender a conviver com novas regras. Sair da quarentena certamente não é "voltar ao normal", porque conforme o tempo passa, uma nova normalidade se instala.

Todo curso de Língua Portuguesa ministrado por mim nos últimos anos terminava com o sorteio de 11 sinais de pontuação. Cada dupla ou grupo tinha que produzir um texto dando destaque ao sinal sorteado. Era difícil entender esse lance de usar a criatividade na universidade, onde eles tinham aprendido a copiar e repetir. Eles poderiam escrever qualquer coisa, em qualquer gênero, não havia limite de páginas. Contudo, para alguns, o manuseio das ferramentas Ctrl C + Ctrl V era mais garantido. E foi assim que fiquei sabendo da história de uma moça que perdeu o pai (ele cometeu suicídio) e elegeu o ponto e vírgula pra simbolizar o seu luto e sua força para seguir vivendo. Ela tatuou o sinal e adicionou a mensagem: essa história não terminou.

Às vezes precisamos de histórias para entender regras.

domingo, 26 de abril de 2020

Juntos?

A primeira parcela de R$ 600 ainda não foi paga a todos que pediram o auxílio emergencial. Ter dinheiro no bolso é condição para ficar em casa para grande parte da população brasileira. Se o dinheiro não vem do governo, é preciso sair de casa para buscar. Cada um por si.

Quando Mandetta era Ministro, havia coletivas de imprensa com perguntas sendo respondidas pelo Ministro e sua equipe todo dia às 17h. Desde que Teich assumiu, não aconteceu nenhuma coletiva de imprensa, nenhum comunicado do Ministério da Saúde ao povo brasileiro, nenhuma decisão foi tomada. Estados como Ceará estão comprando equipamentos de proteção individual diretamente da China. Quem pode, se vira.

O Brasil não é o único país no mundo que tem um presidente que não acredita na gravidade da covid-19, mas penso que seja um dos poucos em que a população está dividida - e confusa. Por mais que pensemos que Bolsonaro é louco, burro, estúpido, ele tem forte apoio popular. Agora que Moro saiu, esse apoio foi chacoalhado, mas não sumiu de todo.

Se os pontos dançantes, erráticos e excessivos serviram para caracterizar o discurso de Bolsonaro na sexta-feira, as reticências personificam melhor esse momento de omissão e ausência do Governo no rumo do país...

Reticências: presença da ausência. Retirado de This is me, period.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Polka dots

Em seu livro Punctuation: art, politics and play, Jennifer DeVere Brody trata dos polka dots (dot: ponto/ polka: a dança; polka dots: pontos que dançam erraticamente), pontos que cobrem o espaço com um padrão irregular de tal forma que a abundância dos pontos acaba chamando mais atenção que as coisas que carregam os pontos. A autora lembra de dois artistas que usaram pontos como meio de expressão: Seurat, com o pontilhismo; e Kusama, com os seus polka dots.
Yayoi Kusama's polka dots
Enquanto os pontilhistas usavam pontos para fazer surgir uma imagem coerente, Kusama enchia a paisagem de pontos para causar uma vibração, desconforto, falta de foco.
O número de casos de covid-19 só cresce no Brasil; hospitais nas capitais brasileiras chegam ao limite de sua capacidade; mais de 3 mil pessoas já morreram vítimas do coronavírus no Brasil ... e o governo nos oferece polka dots:

Sérgio Moro (herói da Lava Jato, superministro da Justiça: Moro-man) pediu demissão em rede nacional depois que seu braço direito, o diretor geral da Polícia Federal, foi exonerado. Moro disse que apesar de sua assinatura constar no Diário Oficial (na verdade, constam as assinaturas do Bolsonaro e do Moro), ele não exonerou seu subordinado, que a exoneração não se deu "a pedido", como consta, e que ele não via motivo para a exoneração. Moro-man reclamou que o presidente passou por cima dele, sendo que tinha lhe prometido carta branca para compor sua equipe como quisesse. Por fim, Moro-man disse que Bolsonaro estava interferindo no trabalho do Ministro da Justiça, querendo que a Polícia fosse um órgão do governo, não do Estado.

Polka dots surgindo ao longo do dia: se Moro não assinou a exoneração, como é que o nome dele aparece no Diário Oficial? Quem pode nomear e exonerar pessoas? Por que Valeixo foi exonerado? Há várias investigações contra os Bolsonaro em curso: a morte de Marielle, as rachadinhas do Flávio Bolsonaro, as fake news do Carlos Bolsonaro. O presidente pode pedir relatórios diários para a Polícia Federal? Acusações graves! Impeachment?
Bolsonaro respondeu seis horas depois. Falou por 46 minutos, com vários ministros postados ao seu redor, pisando nos pés. Não identifiquei o Ministro da Educação, ao passo que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, se fez evidente: era o único que usava máscara, que não usava blazer ... nem sapatos. Todos olhavam para o alto, como se estivessem na iminência de entoar o hino nacional - menos Carlos Bolsonaro que, com seus olhos de rapina, olhava fixamente para o pai.

Por 39 minutos, Bolsonaro soltou polka dots. Nos últimos minutos, anunciou que leria 3 páginas (mas não parece que ele chegou ao final da leitura). Primeiro ponto: Sérgio Moro é egocêntrico. Segundo ponto: eu! Eu. "Eu sou o presidente, pô". Comentou que desligou o aquecedor da piscina do Palácio da Alvorada, que mudou o cardápio, que tem 3 cartões à disposição, com quem tomou café da manhã, que Deus é contra o aborto, que luta contra o sistema. 
Explicou que jamais interferiu na Polícia Federal, mas que teve que implorar pra Polícia Federal - através de seu Ministro - que investigasse o Adélio (autor da facada no intestino de Bolsonaro); que descobrisse se o seu filho, 04, tinha namorado com a filha do ex-sargento, suposto assassino de Marielle; que interrogasse o porteiro do condomínio de Bolsonaro que estabeleceu a ligação entre o suposto assassino da Marielle com os Bolsonaro. Polka dots obliterando a paisagem.

Bolsonaro disse que Moro foi um Ministro lamentavelmente desarmamentista, que tinha uma dificuldade enorme com decretos que facilitassem a compra de armamento e munição. Concluiu que não pode conviver/ fica difícil conviver com uma pessoa que pensa bastante diferente de você.
Todos os polka dots do Bolsonaro dançam na nossa frente e dizem a mesma coisa (com formas, tons e texturas diferentes): eu sou o presidente. Dot, dot, dot.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Piores que a covid-19

"Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a covid-19."

terça-feira, 21 de abril de 2020

Sinais de apontação

Depois da janta de ontem, Agnes e eu folheamos o ebook This is me, period. de Philip Cowell e liustrado por Caz Hildebrand. Pra Agnes, o apelo era visual:


Os sinais de pontuação surgiram depois que o sistema alfabético estava estabilizado. Agnes (re)conhece a letra A - e insiste que V e Y também são A. O que eu quero dizer é que o sistema de sinais de pontuação surgiu tarde na história da escrita, mas tem boas chances de se consolidar cedo no processo de alfabetização da Agnes.

Hoje foi dia de fazer compras. Fui, voltei, estacionei o carro na garagem, busquei o carrinho de supermercado, coloquei as sacolas no carrinho e fui empurrando tudo até o elevador. O porteiro, que tinha me visto chegando pela câmera, veio até o elevador pra me entregar a correspondência que tinha chegado. Agradeci e coloquei no carrinho.

Quem sai de casa toma banho quando volta, essa é uma das nossas regras de quarentena. Deixei o carrinho na porta da cozinha e fui pro final do apartamento. Enquanto isso, Luis e Agnes abriram o pacote quadrado que tinha chegado.

Mal saí do banho, já estava a Agnes lá, toda alegre e contente, me mostrando o livro que tinha chegado (do Leminski, ilustrado pelo Ziraldo e com apresentação do Arnaldo Antunes).

 - Mãe, olha! Os seus sinais de apontação!!!

sábado, 18 de abril de 2020

Do coronafest ao covidário

Entre os dias 04 e 11 de abril aconteceram festas em Porto Velho (em plena pandemia, calamidade, isolamento e quarentena). Nas festas, popularmente chamadas de coronafest, havia pessoas que tinham testado positivo para o coronavírus, de modo que 22 pessoas foram infectadas nas coronafests.

No dia 09 de abril, um enfermeiro que trabalha no Hospital João Paulo II (hospital público) recebeu o diagnóstico de covid-19. Os jornais acusam a diretoria do hospital de negligência, omissão, indiferença e desrespeito às normas de segurança sanitária. Juntamente com esse enfermeiro, 25 outras pessoas da equipe médica que atua no João Paulo foram afastadas do trabalho ontem por estarem infectadas com covid-19. O hospital se transformou num covidário.

Para além da inovação morfológica, haveria relação entre o coronafest e o covidário? Será possível que o paciente 0 no João Paulo tivesse estado no coronafest?

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Individual x coletivo

Estamos isolados em casa há um mês. Por uma questão de praticidade, passei a usar a cafeteira elétrica ao invés da chaleira e cafeteira com filtro de papel. Desenterrei o aspirador de pó que a Rose nunca soube usar. Comprei uma sanduicheira pra animar a Agnes a comer pão, mas não deu certo. Além desses três eletrodomésticos que passaram a se conectar à rede elétrica da casa, a TV e as luzes ficam ligadas por mais tempo, ou seja, entendo que a nossa conta de energia aumente. E aumentou mesmo.

Mas a minha conta individual não diz nada sobre o consumo de energia no país. Pelo contrário, o setor de energia está tendo prejuízo, porque houve queda de consumo de energia em 25% a 30% no mês de março. Quem é o maior consumidor de energia no Brasil? Não são os domicílios. É a indústria eletro-intensiva - que por ora está parada.
A soma dos individuais não resulta no coletivo.

         * * *

Mandetta e Bolsonaro criaram uma novela que se estendeu por semanas. Mediram forças em público, ganharam e perderam aliados, criaram tensão e viraram assunto principal em alguns dias dessa pandemia causada pelo corona vírus. Hoje Bolsonaro demitiu Mandetta que veio a público para apresentar toda a equipe (que fica - aquele papo de "entramos juntos, sairemos juntos" não cola mais) e para se colocar no papel de herói. Claro que o Jornal Nacional aplaudiu Mandetta e apresentou Teich (cuja pronúncia é uma aventura, talvez por isso o Bolsonaro só tenha se referido a ele como "Nélso").
O inimigo, senhor presidente, não é Ministro da Saúde, mas a doença.

Quatro capitais brasileiras chegaram ao seu limite da capacidade de internação. Não há mais lugar nos hospitais e nas UTIs. Ou seja, não interessa mais o número de casos, interessa saber como somos capazes de responder aos casos.
Não estamos ganhando essa guerra.

         * * *

Cada um por si: se não trabalha, não come. E não come enquanto não trabalhar. Depois de trabalhar por 35 anos, não terá aposentadoria, porque era terceirizado e não conseguiu economizar e não tem Fundo de Garantia também. O cerne do neoliberalismo é esse: ganha quem conseguir; e quanto mais se ganha, menos se perde. O governo tem trabalhado nesse modelo, beneficiando os mercados e cortando da Ciência, Educação e Saúde por anos.

Agora estamos em guerra. O país de repente tem cidadãos, de repente cada um importa. De repente é preciso socorrer aqueles que não têm emprego formal, férias, aposentadoria, FGTS. O auxílio emergencial de R$ 600,00 (o presidente, tão preocupado com a economia, inicialmente propôs que o auxílio fosse de R$ 200,00) foi e está sendo distribuído a um número maior de pessoas que o governo esperava. É como se o auxílio fosse um censo.
Os governos de Bem-Estar Social surgiram depois da Guerra.

        * * *

A guerra individual contra o vírus nos equipa com máscaras, álcool gel, obsessão por lavar as mãos, restrições de contato, higiene e proteção. Cada um faz a sua parte, cada um trava a sua luta.

A agroindústria continuará encharcando alimentos com agrotóxicos? As indústrias de alimentos processados continuarão envenenando os consumidores com comida que causa câncer? O mundo voltará a registrar os níveis de poluição pré-pandemia? A Amazônia foi mais desmatada durante a pandemia.
Quando os desejos do indivíduo coincidirão com os do coletivo?

quinta-feira, 16 de abril de 2020

4 em quarentena

Hoje, 16 de abril de 2020, Agnes Maria completa 4 anos de vida. Todo mundo que ligou pra dar os parabéns ficou sabendo que ela não gostou do bolo que eu escolhi pra ela (!). Mas os enfeites de lobisomem, esqueleto, múmia e morcego que passamos a madrugada confeccionando e pendurando no teto agradaram e motivaram histórias compridas.
Todos os arianos, especialmente Agnes e eu (ariano é meio autocentrado) comemoramos aniversário em isolamento.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Dar uma x-ada

Agnes ainda não entendeu bem pra que servem as rimas em músicas. Quando eu canto 
era uma uma casa muito engraçada/ 
não tinha porta, não tinha ___
ela oferece opções que não rimam com engraçada, mas que dão a ideia geral da cena: janela, chão, parede etc.

Apareceu a musiquinha da minhoca no Youtube e Agnes seguiu cantando:  
Minhoca, minhoca, me dá uma beijada.
O que aconteceu com a beijoca?  
Não dou, não dou! Então eu vou roubar!

Outro momento em que Agnes usa o resultado de uma ação é quando ameaça dar uma apanhada no macaquinho (de pelúcia) que se comporta mal.

E viva a morfologia em formação!

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Veneno e remédio

Em poucos dias completaremos um mês de quarentena. Aprendemos muito sobre o mundo e as pessoas que nele habitam, aprendemos muito sobre nós na condição excepcional do isolamento (eu estou desenvolvendo obsessão por faxina).

Vírus não são combatidos por medicamentos, mas por nós mesmos. Em Biologia, se discute se vírus são seres vivos, porque, a rigor, eles precisam de uma célula hospedeira para se manter vivos e procriar. Isso significa, então, que vírus não são autônomos como bactérias - para as quais temos antibióticos que reconhecem as bactérias como muito diferentes de qualquer coisa nossa - porque os vírus se combinam com partes nossas. A palavra vírus vem do latim e significa veneno. Nosso corpo reage ao vírus através do sistema imunológico e cria anticorpos. Por isso a vacina é mais eficiente que qualquer remédio, porque ela ativa a memória imune do corpo.

Por que o presidente do Brasil defende a cloroquina como cura contra a covid-19? Não é o papel dele: ele não é médico. O máximo que medicamentos podem combater é alguma infecção causada pela infestação viral, mas aí não é o vírus que está sendo atacado, apenas um efeito colateral do vírus. No início de março, uma comitiva de 24 pessoas acompanhou Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. De 25 pessoas, 23 testaram positivo para covid-19, dentre elas o presidente da FIERO (e RO está para Rondônia, que deve ter trazido o vírus pra cá). Bolsonaro foi submetido ao teste, mas o resultado não foi publicado. Ele disse que deu negativo. E agora defende a cloroquina. Haverá um nexo? Adivinha quem também não teve covid-19? O sobrenome também é Bolsonaro.

Antes disso, Bolsonaro defendeu o fim do isolamento com o argumento de que os trabalhadores informais não terão renda durante a quarentena. Acho que a pergunta mais acertada seria: como diminuir a quantidade de trabalhadores informais, para que, em tempos de pandemia, ao invés de auxílio-emergencial, possam ter seguro-desemprego? Há tempos Suplicy defende a renda mínima de cidadania.

Vi no noticiário que uma distribuidora de energia está levando eletricidade para favela(s) em metrópole(s). O auxílio de R$ 600,00, para pessoas que estão fora do mercado formal, será pago em 3 lotes desse valor. E a energia? Vão tirar da favela quando a quarentena passar?

Manaus é a única cidade no Amazonas que dispõe de leitos de UTI, por isso colapsou: o estado inteiro (olha no mapa) converge para a mesma cidade para tratar de covid-19. No Norte, a infraestrutura hospitalar em geral é deficitária. Isso significa que o número de mortes por covid-19 no Norte pode ser maior que no Sudeste, que conta com mais hospitais e equipe médica para absorver os casos.

O veneno taí: é o novo corona vírus. O remédio é repensar nossas estruturas, prevenir novas pandemias.

terça-feira, 7 de abril de 2020

SciELO e a ciência aberta

SciELO (Scientific Electronic Library Online) é um portal que reúne produções acadêmicas nacionais. Originalmente a SciELO reunia apenas periódicos e artigos nacionais (este ano, o portal completa 22 anos); e também existe o SciELO Livros - na verdade essa vertente já existe há 8 anos.

Nesta plataforma, diversas editoras podem disponibilizar seus livros digitais de acesso gratuito ou expor seus livros digitais comerciais (a SciELO não vende os livros, mas redireciona para livrarias virtuais como Amazon ou Kobo, por exemplo). Mais da metade dos títulos do catálogo são de acesso aberto. Esses livros foram aprovados pelas respectivas editoras universitárias que os produziram e pelo comitê científico (do qual faço parte, representando a ABEU - Associação Brasileira de Editoras Universitárias). É fato que algumas editoras se fazem mais presentes, como é o caso da Fiocruz, EDUFBA e Editora UNESP, todas grandes editoras universitárias, mas todos os livros ali são relevantes.

Fazer ciência está diretamente ligado a ler ciência. Grande parte dos textos acadêmico-científicos publicados (seja o livro, seja o artigo) é pago. Compramos os livros e as bibliotecas universitárias assinam revistas internacionais e as disponibilizam para consulta aos seus usuários. Quando estudei na Radboud Universiteit Nijmegen, Renato me pedia pra baixar artigos de revistas que a universidade holandesa disponibilizava à sua comunidade acadêmica, porque a Unicamp não assinava aquelas revistas. Em tempos de covid-19, bibliotecas virtuais como a JSTOR, disponibilizaram, até 30/jun, textos selecionados para o público geral; uma gama maior de textos para instituições de ensino ligadas ao JSTOR e acesso ilimitado para quem já assina alguma coisa deles. Super legal: o sistema de castas continua. O drama de quem estuda o novo corona vírus é ter acesso a estudos atualizados.

Disponibilizar PDFs de textos ainda não equivale a ciência aberta, que envolve transparência em relação aos dados (disponibilização dos dados, não somente da análise e dos resultados) e nomes (os pareceristas não são anônimos), além de diálogo através dos preprints.

Submeter um livro ou artigo a uma editora ou revista científica não significa ter garantia de publicação, porque o texto acadêmico passa, via de regra, por três avaliações: (i) editor; (ii) pelo menos dois pareceristas especialistas no assunto tratado no texto e (iii) Conselho Editorial. Esse processo de avaliação é longo, mas garante a validação da publicação.

O preprint é uma corrida em paralelo: o texto é divulgado antes de ser publicado pela editora ou revista. Como quase nunca o texto submetido é o mesmo que o texto publicado (porque a contribuição dos vários leitores do texto tem esse objetivo mesmo, de melhorar o texto), a primeira versão (preprint) é disponibilizada para ser debatida, para ajudar os leitores a pensar, para possibilitar ao autor algum retorno.

Então a SciELO anunciou a criação da plataforma SciELO preprint, inicialmente para atender aos que estudam o novo corona vírus e precisam ter acesso a ciência de qualidade.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

E a EaD?

EaD é a sigla para Ensino à Distância e quase todo mundo se esquece da crase. Mas não é a falta da crase o problema maior.

Quando foi decretado o estado de calamidade, o MEC autorizou que as universidades e faculdades adotassem o EaD para continuar seguindo com as atividades. Grande parte das universidades públicas - inclusive a UNIR - simplesmente suspendeu o calendário e não converteu as atividades presenciais em atividades à distância. E há razões para isso e é defensável que não se converta atividades presenciais em atividades à distância em tempos de isolamento social.

Grande parte das universidades e faculdades privadas já tem grande percentual de suas atividades à distância. E a lógica é da economia de gastos com professores e aumento de lucro com alunos matriculados: uma mesma videoaula acoplada a atividades vira um pacote que pode ser replicado muitas vezes e adquirido por muitas pessoas. O estudante de instituições de ensino superior particulares assina um contrato com a instituição e paga por um serviço. Interrompido o serviço, o estudante pode descontinuar o pagamento. E para que essas instituições não deixem de ganhar, elas oferecem EaD.

A universidade pública é gratuita. Somos servidores públicos.

A universidade pública é autônoma e apresenta uma estrutura hierárquica em que as tomadas de decisão são colegiadas: o departamento, o núcleo, a reitoria e os conselhos são instâncias em que as questões são discutidas, votadas e decididas. As mudanças e as ordens não vêm de cima, ao contrário do que acontece nas particulares.

Porto Velho tem uma única universidade pública (aliás, a UNIR é a única pública em Rondônia, mas é multicampi: Vilhena, Rolim de Moura, Cacoal, Médici, Ji-Paraná, Ariquemes, Porto Velho e Guajará-Mirim) e quatro particulares: Uniron (com uma unidade dentro do Shopping), FIMCA, São Lucas e Faro. Antes tinha a ULBRA, mas a São Lucas comprou.

Os jornais locais (especialmente o Rondônia ao Vivo) continuam noticiando mortes, assassinatos, facadas, apreensões de veículos e drogas, estupros, tentativas de roubo etc. como se a vida seguisse normalmente. Quando aparece o coronavírus, é pra perguntar dos resultados dos testes enviados pra fora (aqui não há laboratórios com capacidade para esse tipo de teste) e para cobrar da UNIR as aulas à distância.

Recomendo a leitura desse artigo publicado no Le Monde por professor de universidade pública federal que passou pela experiência de - depois de muito debate, formação e preparação - aplicar EaD. As diferenças sociais dos alunos se tornaram visíveis: não são todos os alunos universitários que têm um computador em casa e acessam a internet através do celular. Mas o celular não tem memória suficiente nem o plano de internet é pesado o suficiente para suportar as tarefas demandadas pela universidade. Ler e escrever no celular não é tarefa fácil. Dos que têm computador em casa, é possível separar aqueles que compartilham o computador com outras pessoas da casa - eu não tinha computador na minha graduação nem no mestrado, tanto é que minha dissertação está presa num disquete que eu usava nos laboratórios da Unicamp e no computador que ficava na sala da república em que eu morava. Fui ter o meu primeiro computador no doutorado. Por fim, ficar em casa absolutamente não significa ficar sem fazer nada ou conseguir se isolar - por algumas horas diárias que seja - da família e estudar. Nesse sentido, a universidade como lugar para estudar, equipado com biblioteca e laboratórios de informática tem um papel importante.

Antes de anunciada a suspensão do calendário acadêmico da UNIR, eu tinha - em consonância com o meu Departamento - proposto aos alunos uma atividade à distância. Mandei o exercício por email, coloquei no SIGAA (a plataforma acadêmica que usamos) e marquei a entrega pra dali a uma semana. De 42 alunos, 10 entregaram o exercício. Insisti: marquei um Fórum no SIGAA, propus uma tarefa e estabeleci o limite para as pessoas responderem. Ninguém aderiu.

A EaD tem sérios problemas de evasão. Um deles é a dependência da tecnologia, outro é a qualidade do ensino, outro é a organização da pessoa - nem todo mundo tem a disciplina necessária. E deve haver outras razões, que envolvem expectativas. Concordo que a UNIR não deve impor a EaD aos seus alunos, porque nem todos terão condições de acompanhar o ensino à distância. Acho que a universidade deve, no entanto, permanecer ativa na sociedade. Pensar como é o desafio!

Completo 42 em quarentena

Luis e Agnes fizeram esse bolo pra mim, olha só que maravilha!

sábado, 4 de abril de 2020

De volta

Terminando a terceira semana de quarentena.
O número de infectados em Rondônia continua congelado no tempo: 9 no estado todo. Enquanto o Brasil ultrapassa 9 mil casos, Rondônia continua sem resultados de testes.
Agnes e eu lavamos o carro. Me lembrei de tempos remotos em que as pessoas preenchiam um dia do fim de semana para lavar o carro.
Sou eu quem faz a faxina na casa, sou eu quem passa roupa - como era quando eu morava sozinha.
Todas as refeições são feitas em casa - como (salvo raras exceções) quando eu era criança.
Cortei o cabelo do Luis (coisa que nunca fiz antes, mas que me lembrou a dinâmica da casa dos meus pais, em que minha mãe corta os cabelos do meu pai - e cortava os meus, quando eu era criança).
Agnes e eu pintamos ovos de páscoa - tradição familiar.
Estou esperando o estoque no congelador acabar pra descobrir o que tem lá no fundo. Talvez ainda encontre mangas da casa antiga!

O número de acidentes de trânsito diminuiu, a poluição do ar regrediu.
Quando a pandemia passar e as pessoas voltarem a circular, provavelmente teremos adotado outros hábitos.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Palavras que começam com a letra A

Agnes!

alevador
acupuaçu
amostrar (não é assim, pai! vou te amostrar)

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Saúde individual, saúde pública

Costurei minha primeira máscara
Nessa pandemia, a minha saúde não é importante só pra mim, mas também para os outros. É a saúde do coletivo que está em jogo.