Carta de Manaus
Após 32 anos de existência da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU), realizamos a I Reunião Regional ABEU Norte, em Manaus (AM), nos dias 15 e 16 de agosto. Esse encontro tem seu valor não somente pelo ineditismo, mas pelo que significa reunir editoras universitárias de cinco dos sete Estados da Região Norte. Estiveram presentes representantes das editoras da Universidade do Estado Amazonas (UEA), nossa anfitriã, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da Universidade Federal de Roraima (UFRR), da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).
O encontro trouxe a energia da convergência dos saberes amazônicos sobre a editoração de livros no âmbito universitário. Esse saber coletivo foi mobilizado para lidar com assuntos gerais que afetam praticamente todas as editoras universitárias do país, mas também, e principalmente, para olhar de forma diferenciada as problemáticas muito particulares das editoras que atuam na Região Norte, problemáticas estas trazidas à tona para reflexão a partir do que foi posto no encontro pelo vice-presidente de nossa Associação, Marcelo Luciano Martins Di Renzo, a quem agradecemos vivamente. Nós, editores da Região Norte, temos sonhos e pesadelos muito parecidos.
Dentro do contexto socioeconômico e político por que passa o país e atinge as universidades com um todo e mais particularmente as editoras universitárias, algumas questões surgiram, outras se aguçaram. Todas elas, no entanto, parecem ser perpassadas por uma palavra que sustenta as dificuldades diagnosticadas: distância.
A distância parece ser uma questão relevante e central na compreensão do cenário e na organização e articulação das ações. Ela se espalha em vários aspectos e espectros do nosso fazer editorial. Há a distância geográfica da Região Norte, que nos isola do que acontece no eixo Sul-Sudeste do país e nos gera, às vezes, um sentimento de deslocamento em algumas discussões nacionais pelo distanciamento do que é discutido em relação à nossa realidade. Há a distância posta entre as editoras e o seu público, tanto interno quanto externo: a distância entre a editora e o autor, a distância entre a editora e o seu leitor, a distância entre o autor e seus público-alvo. Há também, com bastante recorrência, a distância institucional que há entre as editoras e os demais segmentos e setores dentro da sua própria universidade, que compreendem as editoras de formas diversas e diferenciadas, muitas vezes dificultando a própria interlocução institucional.
Enfim, são as distâncias os grandes desafios. Pensar políticas e práticas editoriais que encurtem essas distâncias em uma sociedade cada vez mais ligada em rede e erguida sob o signo da colaboração e cooperação foi o que se apresentou, em nosso encontro, como mote organizador dos trabalhos a serem feitos. Essa preocupação passa por pensar nossas práticas ligadas à escuta do global, do que fazem as editoras universitárias em outras regiões, mas ao mesmo tempo articulá-las com o local, com o regional, com as vicissitudes particulares de cada uma de nossas editoras do Norte.
Em função disso, apontamos neste documento para o necessário papel de protagonismo das editoras da Região Norte na próxima reunião da ABEU, a ser realizada em Manaus, em 2020. Convocamos as demais editoras coirmãs a pensar conosco a problemática da distância e seus desdobramentos para que possamos, dessa forma, com a expertise de quem já andou mais do que nós e com o desejo imenso de caminhar de quem não andou tanto, exercer o compromisso de devolver à sociedade, em forma de livros, todo investimento feito na ciência, na pesquisa e na produção intelectual que almejam, em última instância, a melhoria da qualidade de vida de todos nós, privilegiando a ética e a cultura da paz e do bem coletivo e a estética de uma vida bonita. É o nosso desafio cotidiano. É um desafio do tamanho da Amazônia. Mas o sonho de fazer e acertar também o é. Temos a certeza de que somente juntos conseguiremos dar um passo além. E um passo que se dá, temos igualmente a certeza, já nos coloca em outro lugar. Caminhemos, pois.
Manaus, 16 de agosto de 2019