Ontem estivemos na piscina do prédio em que mora a família: Marcão, Kika, Pedro e Miguel. A piscina aquecida (a céu aberto) é longa e tem duas raias. Acoplada a esta piscina, numa ponta, tem outra, que faz um semicírculo rasinho, que dá no joelho da Agnes. Nessa parte se concentram as crianças com boias e as crianças com necessidades especiais.
Quando chegamos, tinha um menino com Down sentadinho no raso e duas irmãs correndo, fugindo do pai-tubarão. Agnes observou o movimento e quando a irmã menor percebeu o olhar de interesse da Agnes, ela disse pra minha filha: "você não pode brincar com a gente." Agnes engoliu essa, fez bico e olhou pra baixo.
Depois de uma certa disputa de território com essas meninas, Agnes disse que estava com sede. Busquei uma água de coco em caixinha, dei a ela e depositei a caixinha na beira da piscina. Vendo aquela água de coco, as avós, tias e cuidadoras de metade das crianças na piscina lembrou que era hora do lanche e houve certa debandada.
Veio gente nova e um menino entrou na piscina rasa, parou na frente da caixinha de água de coco e começou a jogar água nela. (De costas pra mim), jogou tanta água, que a derrubou. Levantei brava, achando que se tratava de mais uma criança capeta sem limites. Me enganei e fiquei com vergonha ao ver que o menino era diferente. Fazia gestos repetitivos e tinha um jeito não convencional de se movimentar. O menino tinha dois irmãos mais novos.
Fiquei pensando na loteria que é ter um filho com necessidades especiais. Luis me disse que para a família, a criança é normal, integrada. Para os outros, para o olhar do outro, de fora, é que a criança é deficiente, coitada, limitada. Subimos: banho, janta e TV. Por coincidência, tava passando Ian, uma animação argentina justamente sobre o olhar do outro: um menino se desintegrava toda vez que era alvo dos olhares de chacota das outras crianças no parquinho. Era o olhar do outro que o colocava na cadeira de rodas, na posição de deficiente, incapaz. E também é o olhar do outro que o reconhece como igual.
Fica o desafio: olhar para crianças com necessidades especiais como se pudessem ser também meus filhos, não agradecendo a Deus que não são. Como dizia Elizeu Braga, preparando estudantes PIBID para lidarem com desalojados pela Cheia do rio Madeira em 2014: ver o outro como uma extensão sua.
sábado, 29 de dezembro de 2018
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
Marcão, Kika, Pedro e Miguel
Os meninos dão muita risada com a Agnes - quando não jogam videogame pelo celular. Kika apresenta todo dia novos (velhos) brinquedos pra Agnes. Ontem a menina pediu uma boneca que fala. Kika achou, nos brinquedos dos filhos, um monstro que emite sons. Concluímos que ele fala uma outra língua e agora Agnes se diverte apertando o botão, ouvindo o som e dizendo que o monstro malvado fala outra língua.
Kika também achou papel e canetinhas e tinta: coisas que Agnes conhece e sente falta.
Estamos em Ribeirão Preto (SP) com chuva e quase frio. Marcão disse que a chuva veio conosco - o que foi um alívio pra essa terra quente.
Kika também achou papel e canetinhas e tinta: coisas que Agnes conhece e sente falta.
Estamos em Ribeirão Preto (SP) com chuva e quase frio. Marcão disse que a chuva veio conosco - o que foi um alívio pra essa terra quente.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
Café com quintal para crianças
Descobri um café em Campinas que oferece muitas coisas: brinquedoteca, quintal e até brechó. Gato Mia é o nome. Agnes e eu entramos num Uber e fomos até lá. Pedi o nosso lanche e deixei que ela explorasse a casa e seus brinquedos. Depois de um tempo, ela voltou choramingando. Tinha feito xixi na roupa. O desfralde tinha deslanchado bem, mas pelo visto, contava com recaídas.
Fomos ao banheiro, tirar e lavar a roupa, meter num saco plástico e fomos, ela de tênis e camiseta, até o brechó, escolher um short (esse da foto).
Daí tinha um portão separando o café com brinquedos do quintal com caixa de areia e casa de boneca e escorregador. A placa afixada no portão avisava que a entrada custava R$ 20 adicionais. Uma moça perguntou se a gente não queria conhecer e fomos ficando. Agnes e o monitor se envolveram na brincadeira. Escavaram ossos de dinossauro na areia, fizeram bolos de morango, entraram e saíram de bambolês de diversas cores e tamanhos. A despedida foi difícil.
Fomos ao banheiro, tirar e lavar a roupa, meter num saco plástico e fomos, ela de tênis e camiseta, até o brechó, escolher um short (esse da foto).
Daí tinha um portão separando o café com brinquedos do quintal com caixa de areia e casa de boneca e escorregador. A placa afixada no portão avisava que a entrada custava R$ 20 adicionais. Uma moça perguntou se a gente não queria conhecer e fomos ficando. Agnes e o monitor se envolveram na brincadeira. Escavaram ossos de dinossauro na areia, fizeram bolos de morango, entraram e saíram de bambolês de diversas cores e tamanhos. A despedida foi difícil.
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
Feliz Natal
Ano passado Agnes conheceu os primos e logo se encantou pelo Pedro. Dessa vez não foi diferente, apesar do Pedro ter agora 1.88m e ser menos criança. Subia e descia escada com ela, brincava de esconde-esconde sem precisar se esconder e perdeu a conta de quantas vezes contou até dez.
Grande sensação foi o jogo de passar o anel: ideia da Elisa. Agnes colocava o anel nas mãos do Pedro toda vez - e avisava que era lá que o anel estava escondido.
Agnes foi a alegria do Natal na família Novoa.
Grande sensação foi o jogo de passar o anel: ideia da Elisa. Agnes colocava o anel nas mãos do Pedro toda vez - e avisava que era lá que o anel estava escondido.
Agnes foi a alegria do Natal na família Novoa.
Foto: Rodrigo |
domingo, 23 de dezembro de 2018
Alegria, alegria
Fizemos um passeio curto, mas bem legal com Madá. Fomos de Uber até o Largo do Café, que estava vazio. Antes de pegar Uber de volta, resolvemos tomar uma água de coco no Taquaral. Passou o bonde apitando e decidimos aproveitar a chance de dar uma volta de bonde no parque.
Agnes e Madá se entendem muito bem. Mas ela gosta mesmo é do Pedro (o primo).
Agnes e Madá se entendem muito bem. Mas ela gosta mesmo é do Pedro (o primo).
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Os sinais
Identifiquei o ninho quando vi o ponto vermelho. Depois fui entender que se tratava da boca aberta do passarinho recém-eclodido. A mãe provavelmente se orienta por outros sinais pra identificar os filhotes.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
Tá escrito aqui, papai
Agnes e eu estávamos lendo a história da Cinderela. Um livro bem disney que ela ganhou de alguém (não me vejo comprando um livro assim). Chegamos nas últimas páginas, em que o sapato encontra o pé da Cinderela e cabe certinho. Agnes ficou com pena da moça estar com aquele vestido feio quando o príncipe veio visitar. (Na página oposta, o casal aparece casando - de vestido e terno.)
Eu disse não preocupa, porque agora (apontando para a última página) ela vai casar com o príncipe, e ele vai dar TUUUDO pra ela. Ouvindo esse "vai dar tudo pra ela", Luis comentou que isso era meio machista, não é não? Respondi que eu tinha inventado essa parte.
Agnes pegou o livro, apontou para as letrinhas e gritou: tá escrito aqui, papai, tá escrito aqui!
Aos dois anos e oito meses de idade, Agnes já entendeu o valor das letras, ou seja, fase 1 do letramento cumprida.
Eu disse não preocupa, porque agora (apontando para a última página) ela vai casar com o príncipe, e ele vai dar TUUUDO pra ela. Ouvindo esse "vai dar tudo pra ela", Luis comentou que isso era meio machista, não é não? Respondi que eu tinha inventado essa parte.
Agnes pegou o livro, apontou para as letrinhas e gritou: tá escrito aqui, papai, tá escrito aqui!
Aos dois anos e oito meses de idade, Agnes já entendeu o valor das letras, ou seja, fase 1 do letramento cumprida.
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Bodas de madeira
Luis e Agnes encontraram esse ninho. Foto: Luis |
O casamento no cartório foi dia 4 de dezembro, mas foi tão de ordem prática, que preferimos comemorar o casamento na igreja, dia 7 de dezembro. Mas a comemoração de cinco anos de casados aconteceu dia 08.
Enquanto os homens falavam de política, Agnes passeava pelas histórias.
Foto: Nayara |
domingo, 9 de dezembro de 2018
Direitos do consumidor
Um dia, Luis foi abrir o forno quente e a grade que se projeta pra fora quando se abre o forno (grudada no vidro) travou e o vidro se desintegrou em milhares de pedaços - que ainda hoje encontramos na cozinha. Eu não vi o que aconteceu, nem como. O vidro que se quebrou não era a única barreira entre dentro e fora do forno, de modo que ainda era possível usar o forno. Só que o fogão todo esquentava muito, demorava mais a assar as comidas e de repente as bocas precisavam ser acendidas com fósforo porque o botão não ajudava. Tínhamos um fogão de primeira que foi entrando em falência.
Procuramos fogões no centro, onde há alta concentração de lojas que vendem coisas pra casa. Peneiramos as opções até ficarmos entre um Brastemp e outro, mais barato, Atlas. Eu, que sou meio desligada, nunca tinha ouvido falar em Atlas, mas Luis defendeu a marca e fechamos negócio. A entrega seria só dali a dois dias, então, como tínhamos pressa, fizemos o fogão caber no carro.
O fogão novo tinha (sobre o velho) a vantagem de não cruzar cabos e canos. O cabo da eletricidade saía do mesmo lado em que a parede oferecia a tomada e o acesso pro gás ficava perto do butijão. Liguei tudo, testei as bocas, fiquei feliz e guardei os lixos da embalagem. De tarde, quis fazer pão de queijo pra Agnes. Resolvi pré-aquecer o forno, pra sair qualquer resíduo. Apertei e girei o botão, apertei o outro botão que liga o fogo, vi a chama azul, esperei os 10 segundos indicados no adesivo que tinha retirado antes. Quando soltei a válvula de segurança, a chama apagou. Tentei de novo e de novo. 15 segundos, 20, 30, 60. Toda vez que eu soltava a válvula, a chama apagava. Ou seja, pra usar o forno, seria preciso manter a válvula de segurança pressionada.
Peguei a nota fiscal do fogão comprado na manhã do mesmo dia e voltei na loja. Expliquei o problema, o gerente não entendeu. "Não acende." Acende, sim, o problema é que apaga! O gerente foi pedir instruções pro gerente acima dele e voltou dizendo que "como isso daí é questão de uso, vou te passar o telefone da assistência técnica." Foi no computador e anotou um telefone. Eu peguei o celular e liguei. Ninguém atendia. Ele encontrou outro telefone. Uma moça atendeu falando bem baixo e muito sem vontade de atender. Tive que pedir mais de uma vez que ela falasse mais alto, afinal eu estava dentro de uma loja que expõe TVs ligadas - no centro comercial da cidade, em fim de ano. Ela disse que eu tinha que levar a nota fiscal do fogão lá. Anotei o endereço e fui.
Atravessei a cidade, quase cheguei na zona leste e parei na frente de uma empresa que costuma fazer manutenção nos nossos aparelhos de ar condicionado. A moça que me atendeu também custou a entender o problema do fogão, mas foi categórica: não trabalhamos com a marca Atlas. Reclamei, dizendo que eu tinha dito no telefone que se tratava de um fogão Atlas. Ela foi descobrir quem tinha me atendido no telefone e depois ficou falando mal dessa moça pra gerente. Depois, por caridade, ela procurou saber qual assistência trabalhava com a marca Atlas. Me deu o endereço e eu atravessei a cidade de novo, passei pela minha casa, fiz o retorno e fui me embrenhar pelo bairro Floresta.
A moça entendeu perfeitamente o problema do fogão e me explicou que, enquanto assistência técnica, ela precisava ser acionada pela Atlas. Foi aí que eu pensei: a loja que me vendeu o fogão deveria ter me poupado a gasolina e o tempo gastos na peregrinação e ligado diretamente no 0800 da Atlas. Aí a moça falou que não tinha a peça - porque teria que trocar peça - e demoraria mais de uma semana pra que o problema fosse resolvido. Vendo a minha cara de desânimo, ela lembrou: você não usou o seu forno, portanto não pode ser "problema de uso". Conforme o Código do Consumidor, você tem direito a devolver o produto em até 7 dias. Você comprou o fogão hoje. Ou você pede seu dinheiro de volta, ou troca. Se você acionar a assistência técnica, vai estar aceitando um produto com defeito.
Voltei pra casa porque já era tarde. Pedi pro Luis assumir dali em diante todas as reclamações, trocas, reivindicações de direitos por mim, porque eu sou muito boba pra isso e me deixo guiar pelos João-sem-braço que preferem terceirizar os problemas. Não consegui convencer o meu marido. É preciso aprender com os erros.
Procuramos informações sobre fogões Atlas na internet e bastou um video em que o cara mostrava uma instalação MacGiver que ele tinha feito pra manter o botão apertado enquanto o forno assava comida (porque já tinha ido pra assistência umas 3 vezes e não tinha resolvido) pra sabermos que o nosso problema não era raro no universo Atlas.
No dia seguinte, debaixo de chuva, Luis levou o fogão na loja. Falou com o gerente, explicou o problema, mostrou um vídeo que tínhamos feito. Trocamos, sem problema, foi a resposta. O problema é que não tinha mais nenhum fogão Atlas no estoque e tivemos que levar o do mostruário. E se falhar de novo? O gerente garantiu que vendia muito desse fogão. Se não funcionasse, encontraria uma solução.
Funcionou.
Procuramos fogões no centro, onde há alta concentração de lojas que vendem coisas pra casa. Peneiramos as opções até ficarmos entre um Brastemp e outro, mais barato, Atlas. Eu, que sou meio desligada, nunca tinha ouvido falar em Atlas, mas Luis defendeu a marca e fechamos negócio. A entrega seria só dali a dois dias, então, como tínhamos pressa, fizemos o fogão caber no carro.
O fogão novo tinha (sobre o velho) a vantagem de não cruzar cabos e canos. O cabo da eletricidade saía do mesmo lado em que a parede oferecia a tomada e o acesso pro gás ficava perto do butijão. Liguei tudo, testei as bocas, fiquei feliz e guardei os lixos da embalagem. De tarde, quis fazer pão de queijo pra Agnes. Resolvi pré-aquecer o forno, pra sair qualquer resíduo. Apertei e girei o botão, apertei o outro botão que liga o fogo, vi a chama azul, esperei os 10 segundos indicados no adesivo que tinha retirado antes. Quando soltei a válvula de segurança, a chama apagou. Tentei de novo e de novo. 15 segundos, 20, 30, 60. Toda vez que eu soltava a válvula, a chama apagava. Ou seja, pra usar o forno, seria preciso manter a válvula de segurança pressionada.
Peguei a nota fiscal do fogão comprado na manhã do mesmo dia e voltei na loja. Expliquei o problema, o gerente não entendeu. "Não acende." Acende, sim, o problema é que apaga! O gerente foi pedir instruções pro gerente acima dele e voltou dizendo que "como isso daí é questão de uso, vou te passar o telefone da assistência técnica." Foi no computador e anotou um telefone. Eu peguei o celular e liguei. Ninguém atendia. Ele encontrou outro telefone. Uma moça atendeu falando bem baixo e muito sem vontade de atender. Tive que pedir mais de uma vez que ela falasse mais alto, afinal eu estava dentro de uma loja que expõe TVs ligadas - no centro comercial da cidade, em fim de ano. Ela disse que eu tinha que levar a nota fiscal do fogão lá. Anotei o endereço e fui.
Atravessei a cidade, quase cheguei na zona leste e parei na frente de uma empresa que costuma fazer manutenção nos nossos aparelhos de ar condicionado. A moça que me atendeu também custou a entender o problema do fogão, mas foi categórica: não trabalhamos com a marca Atlas. Reclamei, dizendo que eu tinha dito no telefone que se tratava de um fogão Atlas. Ela foi descobrir quem tinha me atendido no telefone e depois ficou falando mal dessa moça pra gerente. Depois, por caridade, ela procurou saber qual assistência trabalhava com a marca Atlas. Me deu o endereço e eu atravessei a cidade de novo, passei pela minha casa, fiz o retorno e fui me embrenhar pelo bairro Floresta.
A moça entendeu perfeitamente o problema do fogão e me explicou que, enquanto assistência técnica, ela precisava ser acionada pela Atlas. Foi aí que eu pensei: a loja que me vendeu o fogão deveria ter me poupado a gasolina e o tempo gastos na peregrinação e ligado diretamente no 0800 da Atlas. Aí a moça falou que não tinha a peça - porque teria que trocar peça - e demoraria mais de uma semana pra que o problema fosse resolvido. Vendo a minha cara de desânimo, ela lembrou: você não usou o seu forno, portanto não pode ser "problema de uso". Conforme o Código do Consumidor, você tem direito a devolver o produto em até 7 dias. Você comprou o fogão hoje. Ou você pede seu dinheiro de volta, ou troca. Se você acionar a assistência técnica, vai estar aceitando um produto com defeito.
Voltei pra casa porque já era tarde. Pedi pro Luis assumir dali em diante todas as reclamações, trocas, reivindicações de direitos por mim, porque eu sou muito boba pra isso e me deixo guiar pelos João-sem-braço que preferem terceirizar os problemas. Não consegui convencer o meu marido. É preciso aprender com os erros.
Procuramos informações sobre fogões Atlas na internet e bastou um video em que o cara mostrava uma instalação MacGiver que ele tinha feito pra manter o botão apertado enquanto o forno assava comida (porque já tinha ido pra assistência umas 3 vezes e não tinha resolvido) pra sabermos que o nosso problema não era raro no universo Atlas.
No dia seguinte, debaixo de chuva, Luis levou o fogão na loja. Falou com o gerente, explicou o problema, mostrou um vídeo que tínhamos feito. Trocamos, sem problema, foi a resposta. O problema é que não tinha mais nenhum fogão Atlas no estoque e tivemos que levar o do mostruário. E se falhar de novo? O gerente garantiu que vendia muito desse fogão. Se não funcionasse, encontraria uma solução.
Funcionou.
sábado, 1 de dezembro de 2018
sexta-feira, 23 de novembro de 2018
Visão de piloto de avião
Perdi a manhã inteira sentada na sala de espera do oftalmologista. Eu achava que eu tinha consulta marcada logo cedo, mas quando cheguei, tive que pegar senha e aguardar. Conforme o tempo passava, eu ia afundando na cadeira, o olhar perdido. A moça que finalmente me atendeu no balcão, pra digitar os meus dados no sistema e escrever o meu nome numa fitinha branca que ela afixou no meu punho tinha um crachá de técnica em enfermagem. Aquilo foi me deprimindo. Tanto estudo pra trabalhar no guichê anotando dados. Depois ela me levou numas máquinas, apertou botões e justificou o crachá.
Depois ainda fiquei uma hora sentada na frente da porta do oftalmologista que entrava e saía da sala com alta frequência. Afundei de novo na cadeira.
A consulta durou 10 minutos e ainda foi interrompida pela técnica em enfermagem. Tenho visão de piloto de avião, foi a conclusão. 40 anos? Vista cansada. Isso explica as náuseas quando leio de noite no meu celular? Em parte, sim. Tente mudar o brilho da tela, aumentar e negritar as letras, que melhora. Então o problema não sou eu, mas o celular!
Depois ainda fiquei uma hora sentada na frente da porta do oftalmologista que entrava e saía da sala com alta frequência. Afundei de novo na cadeira.
A consulta durou 10 minutos e ainda foi interrompida pela técnica em enfermagem. Tenho visão de piloto de avião, foi a conclusão. 40 anos? Vista cansada. Isso explica as náuseas quando leio de noite no meu celular? Em parte, sim. Tente mudar o brilho da tela, aumentar e negritar as letras, que melhora. Então o problema não sou eu, mas o celular!
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
Preconceito
Esse semestre estou dando aula na Química, na Enfermagem e nas Ciências Contábeis. Dei a mesma disciplina nas três turmas, mas saíram muito diferentes, por causa das características próprias das turmas. A proposta do curso - explorar gêneros textuais diferentes e focar nos gêneros acadêmicos - foi a mesma, mas os textos que serviram de base para as avaliações foram direcionados para cada turma.
Para fazer o fichamento,
a turma de Química leu um texto sugerido por uma amiga minha, professora de Química (sobre o conceito de densidade em Química);
a turma de Enfermagem leu um texto do Mecacci (Conhecendo o cérebro, 1987) sobre os dois hemisférios cerebrais;
a turma de Contábeis ... bem, eu não pude contar com a ajuda de amigos professores de Contábeis, nem aproveitar qualquer convergência entre o que eles estudam e o que eu estudo. Como às vezes, durante aulas de sintaxe, por exemplo, havia atrito com um rapaz craque em gramática tradicional, a quem não consegui explicar a contento que a Linguística é uma ciência que toma por objeto a linguagem e que a gramática tradicional não é uma ciência, mas um modelo de uma língua idealizada, decidi oferecer como texto para fichamento o primeiro trecho do primeiro capítulo do Preconceito linguístico do Marcos Bagno. Todos, inclusive esse rapaz, souberam aproveitar bem o texto. Desse modo, o preconceito linguístico, muito disseminado na nossa cultura e expresso por esse rapaz mais de uma vez, se tornou ao menos visível.
Para fazer o resumo,
a turma de Química leu o conto A última pergunta, de Isaac Asimov (eles tinham feito textos argumentativos sobre fake news e se esforçaram para entender o tema. A última pergunta foi um prêmio);
a turma de Enfermagem leu o capítulo Crítica às ideologias do cérebro de Nildo Viana, sobre o determinismo cerebral, em que a separação do cérebro em dois hemisférios é criticada como sendo apenas uma ideologia (dentre outras, por exemplo, de que o volume cerebral informa sobre inteligência; de que é possível mapear comportamentos, sentimentos e dons no cérebro; de que o cérebro é fluido e tudo não passa de relações químicas; do paralelismo psicofisiológico etc.);
a turma de Contábeis leu o conto Um general na biblioteca de Ítalo Calvino. E eu escolhi esse texto porque acompanho o grupo de whatsapp deles (pois é) e as discussões entre eleitores de Bolsonaro e não Bolsonaro foram intensas. Tive acesso a muitas fake news através desse grupo, em que muitas pessoas replicavam desinformação e se agrediam com emoticons😏.
Adotei como estratégia didática estabelecer a data de entrega pra depois da aula. Como sempre recebo trabalhos antes da aula, tenho tempo de ler, perceber tendências, comentar em sala de aula e evitar mal-entendidos. Quase todos que tinham entregado antes do prazo acabam refazendo seus textos com base nos comentários em sala de aula.
Os primeiros resumos de Um general na biblioteca me assustaram: toda a dinâmica dos militares acampando na biblioteca com a missão de censurar livros que "fossem contrários ao prestígio militar" foi descrita - os carimbos, as patentes, os relatórios, a divisão de tarefas. Depois há um salto para o período de silêncio na biblioteca, que conduziu a base militar a decidir encerrar a missão. Em seguida, o general encarregado da missão apresentou seu relatório - que não agradou - e foi aposentado.
Fiquei pensando nO evangelho segundo Jesus Cristo, do Saramago. No romance, Saramago fez uma opção de não transcender a morte de Jesus. A história acaba com a morte do homem. Não há ressurreição - tão significativa para os cristãos. Saramago, enquanto ateu, acreditava que Deus não existe, portanto o Reino de Deus não é uma promessa. Os alunos que leram Um general na biblioteca e produziram resumos como descrito acima, fizeram uma opção por silenciar a transformação que aconteceu com os militares na biblioteca sob orientação do senhor Crispino, o bibliotecário? Eles não acreditam que o conhecimento transforma as pessoas, que convicções podem ser desconstruídas através do diálogo e do argumento?
Ou será que eles não entenderam o conto? Um deles confessou que não tinha entendido o conto nem na segunda leitura. Mas como ele tinha a tarefa de resumir o conto, procurou na internet. Achou um vídeo no Youtube e o entendimento assentou. Percebi grande resistência ao texto escrito. O audiovisual - ver e ouvir uma pessoa falando - fez toda a diferença. Decidi nunca mais fazer a brincadeirinha "gente, eu fiz Letras, não Números", porque parece que a recíproca é verdadeira - e preocupante, a meu ver.
Tentei comparar o conto com uma parábola. As parábolas de Jesus são, por exemplo, sobre sementes jogadas em lugares diferentes; não sobre pessoas que compreendem ou não uma mensagem. No meu entendimento, Um general na biblioteca é sobre militares que decidem censurar livros que não corroborem suas opiniões formadas; não sobre preconceito (pré-julgamento; Vorurteil; nas palavras de Bagno: "resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica"). Os militares acampados na biblioteca foram confrontados com uma complexidade que seus preconceitos simplificavam. Não conseguiram articular toda a complexidade recém apreendida no ato de apresentar relatório - e os seus superiores, que esperavam uma simples lista de livros permitidos e outra de livros proibidos, não souberam lidar com a desconstrução explícita de seus próprios preconceitos.
"Eu nem leio esse tipo de texto que desconstrói as minhas crenças, professora" disse o rapaz que afirmou que só em Portugal eles falam o português correto, mas fez um fichamento pertinente do início do Preconceito linguístico. Pois é. Escola sem partido é isso, não permitir que visões de mundo diferentes daquelas adotadas pela família (eles chamam de ideologia) sejam apresentadas na escola - e, se Bolsonaro conseguir, na universidade. Escola sem partido chama tudo que é de fora/desconhecido de ideologia, mas está inserido numa ideologia: o conservadorismo, a não abertura.
Retorno mais uma vez a Bagno: "A função da escola é, em todo e qualquer campo de conhecimento, levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que ela não sabe [...]."
E já que estamos fazendo pontes entre ideologia e preconceito, complexo e confortável, recomendo A gigantesca barba do mal, grata surpresa do universo dos quadrinhos.
Para fazer o fichamento,
a turma de Química leu um texto sugerido por uma amiga minha, professora de Química (sobre o conceito de densidade em Química);
a turma de Enfermagem leu um texto do Mecacci (Conhecendo o cérebro, 1987) sobre os dois hemisférios cerebrais;
a turma de Contábeis ... bem, eu não pude contar com a ajuda de amigos professores de Contábeis, nem aproveitar qualquer convergência entre o que eles estudam e o que eu estudo. Como às vezes, durante aulas de sintaxe, por exemplo, havia atrito com um rapaz craque em gramática tradicional, a quem não consegui explicar a contento que a Linguística é uma ciência que toma por objeto a linguagem e que a gramática tradicional não é uma ciência, mas um modelo de uma língua idealizada, decidi oferecer como texto para fichamento o primeiro trecho do primeiro capítulo do Preconceito linguístico do Marcos Bagno. Todos, inclusive esse rapaz, souberam aproveitar bem o texto. Desse modo, o preconceito linguístico, muito disseminado na nossa cultura e expresso por esse rapaz mais de uma vez, se tornou ao menos visível.
Para fazer o resumo,
a turma de Química leu o conto A última pergunta, de Isaac Asimov (eles tinham feito textos argumentativos sobre fake news e se esforçaram para entender o tema. A última pergunta foi um prêmio);
a turma de Enfermagem leu o capítulo Crítica às ideologias do cérebro de Nildo Viana, sobre o determinismo cerebral, em que a separação do cérebro em dois hemisférios é criticada como sendo apenas uma ideologia (dentre outras, por exemplo, de que o volume cerebral informa sobre inteligência; de que é possível mapear comportamentos, sentimentos e dons no cérebro; de que o cérebro é fluido e tudo não passa de relações químicas; do paralelismo psicofisiológico etc.);
a turma de Contábeis leu o conto Um general na biblioteca de Ítalo Calvino. E eu escolhi esse texto porque acompanho o grupo de whatsapp deles (pois é) e as discussões entre eleitores de Bolsonaro e não Bolsonaro foram intensas. Tive acesso a muitas fake news através desse grupo, em que muitas pessoas replicavam desinformação e se agrediam com emoticons😏.
Adotei como estratégia didática estabelecer a data de entrega pra depois da aula. Como sempre recebo trabalhos antes da aula, tenho tempo de ler, perceber tendências, comentar em sala de aula e evitar mal-entendidos. Quase todos que tinham entregado antes do prazo acabam refazendo seus textos com base nos comentários em sala de aula.
Os primeiros resumos de Um general na biblioteca me assustaram: toda a dinâmica dos militares acampando na biblioteca com a missão de censurar livros que "fossem contrários ao prestígio militar" foi descrita - os carimbos, as patentes, os relatórios, a divisão de tarefas. Depois há um salto para o período de silêncio na biblioteca, que conduziu a base militar a decidir encerrar a missão. Em seguida, o general encarregado da missão apresentou seu relatório - que não agradou - e foi aposentado.
Fiquei pensando nO evangelho segundo Jesus Cristo, do Saramago. No romance, Saramago fez uma opção de não transcender a morte de Jesus. A história acaba com a morte do homem. Não há ressurreição - tão significativa para os cristãos. Saramago, enquanto ateu, acreditava que Deus não existe, portanto o Reino de Deus não é uma promessa. Os alunos que leram Um general na biblioteca e produziram resumos como descrito acima, fizeram uma opção por silenciar a transformação que aconteceu com os militares na biblioteca sob orientação do senhor Crispino, o bibliotecário? Eles não acreditam que o conhecimento transforma as pessoas, que convicções podem ser desconstruídas através do diálogo e do argumento?
Ou será que eles não entenderam o conto? Um deles confessou que não tinha entendido o conto nem na segunda leitura. Mas como ele tinha a tarefa de resumir o conto, procurou na internet. Achou um vídeo no Youtube e o entendimento assentou. Percebi grande resistência ao texto escrito. O audiovisual - ver e ouvir uma pessoa falando - fez toda a diferença. Decidi nunca mais fazer a brincadeirinha "gente, eu fiz Letras, não Números", porque parece que a recíproca é verdadeira - e preocupante, a meu ver.
Tentei comparar o conto com uma parábola. As parábolas de Jesus são, por exemplo, sobre sementes jogadas em lugares diferentes; não sobre pessoas que compreendem ou não uma mensagem. No meu entendimento, Um general na biblioteca é sobre militares que decidem censurar livros que não corroborem suas opiniões formadas; não sobre preconceito (pré-julgamento; Vorurteil; nas palavras de Bagno: "resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica"). Os militares acampados na biblioteca foram confrontados com uma complexidade que seus preconceitos simplificavam. Não conseguiram articular toda a complexidade recém apreendida no ato de apresentar relatório - e os seus superiores, que esperavam uma simples lista de livros permitidos e outra de livros proibidos, não souberam lidar com a desconstrução explícita de seus próprios preconceitos.
"Eu nem leio esse tipo de texto que desconstrói as minhas crenças, professora" disse o rapaz que afirmou que só em Portugal eles falam o português correto, mas fez um fichamento pertinente do início do Preconceito linguístico. Pois é. Escola sem partido é isso, não permitir que visões de mundo diferentes daquelas adotadas pela família (eles chamam de ideologia) sejam apresentadas na escola - e, se Bolsonaro conseguir, na universidade. Escola sem partido chama tudo que é de fora/desconhecido de ideologia, mas está inserido numa ideologia: o conservadorismo, a não abertura.
Retorno mais uma vez a Bagno: "A função da escola é, em todo e qualquer campo de conhecimento, levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que ela não sabe [...]."
E já que estamos fazendo pontes entre ideologia e preconceito, complexo e confortável, recomendo A gigantesca barba do mal, grata surpresa do universo dos quadrinhos.
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
Cê tá falando errado
Agnes não produz nenhum som da família do R:
hua, hato, hio madela
guipe e tosse, fiio e calôa, um dois têis
ávoli, vemeio e amanelo
nem chia:
Zúlia, zanela,
sícala, sávi, socolati.
E me diz que eu estou "falando ehado". Deve ter aprendido na escolinha que existe certo e errado.
hua, hato, hio madela
guipe e tosse, fiio e calôa, um dois têis
ávoli, vemeio e amanelo
nem chia:
Zúlia, zanela,
sícala, sávi, socolati.
E me diz que eu estou "falando ehado". Deve ter aprendido na escolinha que existe certo e errado.
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
Lançamento de livro
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Arte: Leidijane Rolim |
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Foto: Eliane Gemaque |
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Foto: Eliane Gemaque |
domingo, 14 de outubro de 2018
Dia das Crianças com os samurais
Foto: Priscila Mello |
Com galhos de amora, barbantes coloridos e folhas de cupuaçu, as crianças fizeram passarinhos. Agnes esperou a Selma fazer pra ela, mas ela se divertiu igual.
Fiquei muito feliz de ver a minha pequena solta, correndo pelo espaço, interagindo com outras crianças, brincando com o passarinho dela.Depois teve parquinho e lanche. Comeu pipoca com todo mundo, dividiu o copo de suco com o Yuri, brincou e não queria ir embora. Fomos as penúltimas a sair.
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
Garten
Quando chove ou a gente rega o suficiente, o cactus dá flores.
Agnes sempre procura frutinhas nos arbustos dessas flores. Verdes, vermelhas ou pretas, ela já sabe que essas ela não pode comer.
Está nos chamando atenção a quantidade de borboletas e mariposas que aparecem dentro da casa.
Acerola colhida do pé. Virou suco.
Este ano, os cajus estão me parecendo pequenos.
Esse ano elas começaram a cair em agosto. As primeiras estavam cozidas do sol. Agora estão boas, mesmo com a estiagem recente.
Está nos chamando atenção a quantidade de borboletas e mariposas que aparecem dentro da casa.
Acerola colhida do pé. Virou suco.
Este ano, os cajus estão me parecendo pequenos.
Esse ano elas começaram a cair em agosto. As primeiras estavam cozidas do sol. Agora estão boas, mesmo com a estiagem recente.
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Colativo
Agnes percebeu algumas coisas:
Band-aid cola.
Band-aid é curativo.
Adesivo cola.
Na falta de Band-aid, dá pra colar adesivo nos joelhos.
Assim, Band-aid e adesivo são colativo.
Band-aid cola.
Band-aid é curativo.
Adesivo cola.
Na falta de Band-aid, dá pra colar adesivo nos joelhos.
Assim, Band-aid e adesivo são colativo.
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Ovo caipira
O primeiro ovo, da esquerda para a direita, é um ovo caipira comprado no supermercado. O do meio é da nossa galinha caipira, o mais comprido é o da Nagasaki.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
2 Editais de publicação
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Imagem: Leidijane Rolim da Silva |
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