
Júnior escolheu uma escola grande, em que há muitos professores que abusam do seu direito de faltar. Ele aparece na escola às 7 da manhã e descobre quais professores faltaram, decide qual professor vai substituir, entra na sala de 40 adolescentes apáticos e dá aula. Há dias em que ele dá as seis aulas, há dias em que ele prefere ficar em casa, deitado no sofá e vendo seriados americanos. Esse é o lance de ser eventual: ele vai quando quer e dá aula do que vier.
Ele volta pra casa cansado, dizendo que deu aula de português, filosofia, matemática e educação física. Pergunto o que ele deu na aula de português, e ele responde que ele não precisava ensinar nada, que a função dele era apenas manter os alunos em sala de aula e quietos. Se ele pudesse usar a quadra, daria ótimas aulas de jogos, massagem e outras experiências corporais, mas ele deve ater-se à sala de aula. Decepcionada com o sistema de ensino e com o desempenho do Júnior, comecei a pensar em aulas que eu daria se estivesse na pele dele. Propus enigmas (lingüísticos, lógicos e matemáticos) e sugeri que ele os lançasse em sala de aula. Imaginei que fossem despertar a curiosidade e competitividade dos adolescentes, estimulando ao mesmo tempo o seu raciocínio. Sugeri material para as aulas de português, pensei em jogos e gincanas.
Mas ele não tem tempo nem motivação para preparar essas aulas eventuais. Não são os alunos dele, são sempre desconhecidos muito mais interessados no celular, Ipod, chiclete ou colega que no Gafanhoto Júnior. E é assim que boas chances de remendar o soneto são perdidas...